photo: oriana_heliz
embrenho-me nos ventos do norte,
sou pétala, sou folha de outono,
deixo-me ir para onde o vento me levar...
já não há vida no meu coração
e a alma transformou-se em pedra.
levantei a taça de vencido
e fiz jus o vencedor...
nos meus olhos,
nascem vagas de negras lágrimas,
e a sombra da lua e do sol
espelha-se sobre mim.
sei que aqui e ali não sou feliz,
por isso parto para a aventura...
entrego-me ao mundo,
como o cordeiro se entrega ao lobo,
levo a guitarra sem cordas nas costas,
papel rasurado e uma caneta virgem,
levo o meu corpo
embebido em sangue, suor e lágrimas,
cavo sementes de poesia
e desatino a dor que me acompanha.
ergo a fronteira da vida e da morte,
sou condenado no tribunal do sofrimento,
onde o diabo é o meu advogado,
onde os seus discípulos riem
pela pena em mim imposta,
penitenciado, acusado e torturado,
ficam com o que resta de belo,
com actos impunes, eles vencem... uma vez mais.
continuo a viagem a que me submeti,
caminho descalço pelo tapete em brasas,
pelo passeio de espinhos...
mas, não é esta a dor que me tortura...
peço para serem clementes
e porem um ponto final...
mas algo surge no horizonte,
uma borboleta, uma flor, um anjo,
que me diz, sem eu merecer,
para acreditar em mim...
fico estatelado e tento perceber
porque me diz, o que me diz e quem é...
interrogo-me se será mais um truque
do meu querido advogado,
mas não... não sei... parece ser amiga...
dispo a minha nudez,
aperto a minha guitarra, pronta a tocar (sem cordas)
levanto a caneta, estendo o papel
e tento fazer algo... uma canção...
assim me iludo... me perco...
nas pétalas do condenado, nas amarras do inocente
e sigo sem saber por onde andar...
serás tu meu anjo que me irás encaminhar?
Bruno Ribeiro
Março/00