quarta-feira, dezembro 23, 2009

momentos

photo: abandoned, chair 1_garnoo


Varro o chão...

... com este olhar que se perde entras as sombras das pedras da calçada e o rasto das formigas.

... com este olhar que escuta o silêncio dos diálogos entre as pessoas à minha volta não estando presentes, entre os passos que atravessam a rua nesta rua despida de gente, entre o vento que sopra e que move qualquer som entre os ramos das árvores... mas nem o vento corre, nem as árvores sequer têm força para balançar com o vento... aliás...

Varro o chão neste silêncio da calçada que me abraça sem a minha vontade, e que vontade ter e perder, sem sentir por fora o que por dentro sinto, momentos em que te recordo em que me esqueço de não te lembrar...

São acordes de violino os que penetram na minha alma, vivendo no silêncio que me circunda entre gritos de desespero que me enche mas não se solta

é neste estado, que me sento na cadeira que acompanha uma mesa perdida numa esplanada vazia, em que o empregado de mesa repousa algures e a lua é o candeeiro que ilumina escondida pelas nuvens. é neste estado, que estendo... o caderno já cansado das palavras e pouso... a caneta gasta e rouca de tantas conversas entre o que sinto e as páginas esquecidas... e é neste estado que sangro do corpo as palavras que embalam uma vez mais as insónias...

Bruno Ribeiro
pms, 23.dezembro.009

sexta-feira, outubro 02, 2009

uma vez mais....

photo: s/t -Pedru Li

poderão as palavras acalmar esta ânsia de querer e não poder alimentar aquilo que sinto, aquilo que quero sentir... serão as marés temporárias, marés do meu ser e escrever aquilo que sinto porque sinto por vezes sem saber que sinto... a penumbra ausência de mim mesmo, sem sentido, de pouco sentido sem qualquer sentido... viajo entre as letras que me abundam sem nexo, complexo... em anexo ao que pretendo dizer sem dizer gritando em silêncio mudo no barulho... das sombras que me percorrem a alma, me perfuram o espírito e estrangulam a alma...

com sentido ou sem sentido ausência de qualquer sentido ao meu sentido coração... e nesta tertúlia dos sentidos em que me encontro uma vez mais, pauto o que escrevo aquilo que diz o coração, o olhar ausente naquela imaginária sombra de ti... não desvies o olhar, não cruzes a estrada, não fujas... apenas pinta o sorriso que me apaixonou na tela do meu viver... uma vez mais...

e perco-me... outra vez e uma outra que se aproxima nos mesmos acordes...em puro vazio de não te sentir, nem sequer ver... tão pouco tocar... desenha, rabisca ou pinta no ar esses teus gestos puros de leveza... que me transportam às portas da perdição do que sinto, sem por vezes saber que sinto ou o que sinto, nem sequer entender porque ainda sinto.... o que sinto... não desvies o rosto, não apagues o sorriso, não esboces o espelhar de uma lágrima... minha... apenas pinta o sorriso que me apaixonou na tela do meu viver... uma vez mais...



não sei se é um regresso. não sei se é uma transição. não sei de nada do nada que sei...



bruno ribeiro
pms. 1.setembro.009

domingo, junho 14, 2009

saí

photo: water dreams - reloaded_carlos silva

não batas à porta
nem espreites à janela
pois já saí!

bruno ribeiro
lx. 17.fevereiro.009

terça-feira, junho 02, 2009

esquiços de sonhos

photo: that's how it is, and so be it..._alba luna


guardo nos bolsos o vazio

e na mochila o futuro

e parto virilmente

sobre os sapatos cansados

e as calças gastas

por entre esquiços de sonhos!

até já

até breve

até sempre



bruno ribeiro

lx. 2.março.009

quarta-feira, maio 20, 2009

antídoto, os teus lábios

photo: a noite desaguou em mim... _mariah

que veneno este…
que me corre pelo sangue
e se banha no coração
que veneno este…
que me suga a alma
e ataca a memória…

que sentimento de veneno
que me atiça entre as sombras
do meu corpo que dança
desvairado entre os gritos mudos
do olhar que chama
esse nome… que ecoa em mim!

que veneno este…
que me corrói o corpo
e resvala no sangue!
são farpas essas palavras que não ditas
são ouvidas no silêncio desse olhar
que me condena nas masmorras
da carne que me prende, corpo este…

alívio este cair…
no ar livre que vagueia o mundo,
que sabor este…
dos momentos tardios de saber
que o antídoto está nos teus lábios…
fosse ténue a dor,
fosse manso o desespero…
fossem alegres as palavras…
escritas na encosta da minha pele
que nutre a vontade de te tocar

alívio este cair…
no manto que é o vazio!

bruno ribeiro
lx.12.março.009

domingo, maio 10, 2009

outros usos para uma folha de papel

photo: sanctuary_alba luna


amanhece…

porque penso em ti? … ainda…

anoitece…

porque escrevo sobre ti? ... ainda…

- rasgo as folhas ainda virgens
faço delas um barco de papel
e parto em viagem!

bruno ribeiro
lx. 17.fevereiro.009

domingo, maio 03, 2009

sedução, prazer e paixão

photo: abandonei-me ao silêncio_mariah


seduz-me…
… assim,
nesse gesto inquieto
e leve que se estende
pelos resquícios da paixão!
seduz-me…
com esse olhar penetrante
que irrequieto
embriaga-me…
como o doce vinho
que beija os nossos lábios
e aquece os nossos corpos!
são gestos privados
esses elegantes a meia-luz
e de seios despidos
em que te entregas à melodia
da batida dos corações
que se emaranham
entre a teia da sedução!

seduz-me…
enquanto te olho
sem pestanejar,
nesta louca vontade
de te tocar…
e o teu corpo junto ao meu
que me afaga
neste jogo da paixão!
e sem condenação
rendemo-nos…
jogamos as últimas peças de roupa
no chão…
e entregamo-nos…
entre desejos loucos que se libertam
entre olhares
entre as mãos que bailam
e desenham nos corpos
caminhos de paixão
que se revezam…
em gemidos largados… no ar
o suor que escorre…
os beijos guardados nos corpos…

o tempo pára, esquecido…
o mundo deixa de girar…
tudo ali concentrado
entre nós dois…
o olhar final… de prazer
os dois sorrisos…
o nascer do sol…


bruno ribeiro
pms. 27.fevereiro.009

segunda-feira, abril 27, 2009

pintados pelo fogo

photo: unknown

no soalho, descansam os sapatos despidos, pousados como parte da mobília que se quer discreta, entre o silêncio dos passos!
as paredes pautadas por quadros cuidadosamente escolhidos e colocados numa tonalidade constantemente neutra do resto da sala.
o sofá, colocado meticulosamente junto da lareira deixando respirar o tapete, também ele neutro!
tudo o resto, uma tela que apenas ganha vida com a vida da chama na tela viva que é – o lume, o fogo da paixão!

deitada sobre o tapete neutro
dando vida a uma sala esquecida,
esquecida pelo tempo…
vivida pela velhice das tábuas roucas!
olho-te, sem te aperceberes,
para o corpo despido,
apenas escondido por uma manta,
enquanto sirvo os copos com vinho…
sorrio-te, nessa troca de olhares
e aproximo-me estendendo o copo
apenas saboreamos…
e bebemos os lábios um do outro
pintados pelo fogo vibrante!

[deixo para ti o desenrolar da história]

bruno ribeiro
lx. 10.fevereiro.009

domingo, abril 12, 2009

estátua do tempo e da memória

photo: disse-te o que sabia..._mariah

assistes à passagem do tempo
escutando tantas conversas vencidas
que se perderam no ar
e consentes nesse lugar
sem te moveres entre os raios de sol
ou mesmo entre o sabor da chuva!
impávida,
fria quietude…
não sorris… não choras…
nem tão pouco comentas
as tantas histórias que podias revelar
sem te moveres nesse lugar,
entre os passos frenéticos
e os passos curiosos…

mas aí estás segura de ti,
à passagem do tempo
sem te moveres…

bruno ribeiro
lx. 14.fevereiro.009

sábado, abril 04, 2009

momentos sentidos

photo: na vaga dos teus dedos_mariah

de que sons são feitos o olhar
esse teu que me vence
naquele jogo de sedução
e que me abraça
no aconchego de te amar!?

de que sabor são feitas as palavras
essas que me embalam
nas danças do coração
e que me envolve
no desejo de te beijar!?

serão surdos os momentos
em que esquecemos o mundo?
serão eternos esses momentos
em que os corpos se enlaçam?

de que cor serão os toques
suaves entre as doces mãos
que viajam pela paixão
e que me guardam
no mar dos desejos!?

de que silêncio serão os beijos
que me varrem o corpo e a alma
no prazer à luz da vela
e que deixa excitação
no chão, na mesa e na cama!?

momentos em que o escuro
é pautado pelo vermelho-paixão
momentos em que o leito
é pintado pelos nossos sentidos!

bruno ribeiro
pms. 6.fevereiro.009

segunda-feira, março 30, 2009

sombras e segredos no obscuro invisível

photo: (à espera da...maré...) re-edição_fernando figueiredo

estou preso nos verbos conjugados do passado. barras de uma prisão invisível e dolorosa que me abraçam e despedaçam a cada segundo.
fujo, ignoro, viro as costas… e enfrento!
mas sempre se levanta ainda mais forte… e as forças já não me restam…
vacilo, entre passos, deambulando… não me entrego, mas só a alma me resta… do que resta…

bruno ribeiro
pms. 7.março.009

domingo, março 22, 2009

deixo-te e vivo-me!

photo: a verdade não liberta_mariah

sobre a folha de papel vazia
pouso a caneta de tantos escritos
já seca,
apago o candeeiro
já rouco,
saio, fecho a porta
e parto…

bruno ribeiro
lx. 17.fevereiro.009

segunda-feira, março 16, 2009

para ti, sorriso de mim

photo: anoitece ou amanhece, tanto faz_mariah

para ti,
escondido entre segredos
uma flor pintada de cores
e perfumada de beijos.

para ti,
pousado na sacola
um sorriso e um beijo
perfumado de mim!

bruno ribeiro
lx. 2.março.009

quinta-feira, março 12, 2009

saboreando uma rua!

photo: raw like sushi_avalon


sou eu e apenas eu.
esse sujeito que à chuva
anda de guarda-chuva fechado
ou mesmo sem ele!
que se esconde das poças de água
vítimas de atropelo.

é apenas um sujeito
que escreve numa frágil folha de papel
memórias soltas,
mesmo à chuva,
que importa?
desde que as folhas continuem vivas…

como as palavras audíveis
que se esfregam pelas ruas cheias
de almas sociáveis,
e de segredos mantidos entre cusquices
cai uma laranja que rebola
nas pedras molhadas, sem parar…
como o tempo…

náufrago das vidas inquietadas
por amores e desamores
e novelas de enganos
e partilha de traições
cantigas de maldizer
resquícios das palavras (ab)usadas!

mas lá vai esse sujeito
que mesmo entre o coxear das cadeiras
se senta na borda de uma rua
pintada de esplanada
e saboreia o seu café!
entre os murmúrios das mesas
e o chilrear dos passos desconhecidos!
sim, esse sujeito que sou eu!

bruno ribeiro
lx.11.fevereiro.009

domingo, março 08, 2009

desabafos numa carruagem

photo: unknown

o tempo prescreve-se
sentado na carruagem aberta de um comboio
saboreando o ar que me respira
a brisa que me vive
e o sol que me beija…
ouço guitarras a tocar
melancólicas e roucas,
pintadas de sorrisos… de vida!
bate longe o mar contra as rochas
num apetite voraz de me segredar
respirar… e viver… cada momento!
não importa quantas paragens atravessei
pouco importa o passado…
aprecio o momento…
aquele em que saboreio as frutas nuas
das árvores que respiram ar… soltas…
presas pelo tempo…

Bruno Ribeiro
2.Fev.2009
à procura de mim!

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

margens que se aproximam

photo: a noite tem feito a sua teia _mariah

quantas margens
tem este rio que nasce no mar
e desagua no olhar…
que se estende
à imensidão da distância
daqui aí…
distância dos nossos lábios…
quantas margens
tem esta página que nasce da mão
e desagua no coração…
que te sente
a cada pulsar e dista
daqui aí…
distância dos nossos olhares…

segredo-te
cada palavra que sinto
e escuto
cada calambear das palavras
que percorrem a voz rouca
que nasce em mim
e desagua em ti…
são breves entre os segundos
que se diluem no infinito
este sentir e pulsar
o quanto bate o coração
por ti!
são eternos entre os segundos
que se diluem nos momentos
este sentir e desejar
o que por ti o meu corpo sente
vontade de te beijar…

Bruno Ribeiro
PMS, 29.jan.009

domingo, fevereiro 15, 2009

pousado na pedra polida pelo mar bravio

photo: o cântico do shamã_heliz

uma pedra repousada no tempo
no meio de tantas outras
semelhantes, frias…
polidas pelo mar bravio,
tatuadas pela espuma branca…
nessa pedra guardada
na memória da minha existência…
sento-me,
olhando para a tela que me absorve
esse mar imenso… irrequieto…
no mesmo lugar onde já estivemos
a amarmo-nos com o olhar!
a espuma do mar,
relembra-me os segredos partilhados
jamais revelados. doce confidente…
este mar!
que me espreita, agora sozinho,
ali pousado, como um pássaro numa galho.
absorvo a brisa dos últimos raios de sol
que me aquecem num último momento!
e permaneço…
engolido no tempo…
que me desfaz… entre pensamentos,
que vagabundos, recorrem a mim
para se soltarem… inquietos…
guardo-me, naquele recanto
da encosta despida,
sobre a pedra cinzenta
polida pelo mar bravio…
perco a consciência que existo
navegando no mar,
através dos sentimentos
embarcado no olhar
que se estende no azul infinito
e termina no algures
das lembranças pousadas
na gaveta escavada
do meu sentir!
esse marinheiro de ilusões…

deixo-me estar,
com a espuma do mar
o meu rosto beijar,
e segredar
o teu relembrar…


não te esqueço,
mas para te lembrar
preciso de abrir a gaveta
escavada em mim
e a chave está pousada
sobre a pedra polida pelo mar bravio…


Bruno Ribeiro
Lx.21.jan.009

terça-feira, fevereiro 10, 2009

a torre

photo: s titulo_helder mendes

desço do meu cavalo branco
com a espada e o escudo nas costas,
caminho sobre as paredes gastas
do castelo de areia
e subo à torre perdida
por entre as nuvens…
que te guarda
e me aguarda por entre as pedras
que repousam firmes nas paredes.
subo às escadas sem receio
nem tão pouco me cansar
e subo-as a um qualquer ritmo.
pelas fenestras
olho para a vila que se expande
à volta do castelo
e mais além,
as serras que o envolvem…
chego ao topo,
encosto a mão à porta
avisando que cheguei…

abres a porta… sorrindo
de olhos bem abertos
como se não nos víssemos há mil anos
entro,
contigo a abraçar-me
e logo se estende o beijo
que faz diluir as roupas
e derreter os corpos…

Bruno Ribeiro
PMS, 3.Jan.009

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

regressos (in)desejados

photo: o caminho menos percorrido_heliz

guardo na algibeira uns trocos
nos olhos a vontade de te ver
na boca o desejo de te beijar…
vou até à estação mais próxima
e vendo os trocos por um bilhete
que me leve… para onde estás
conto as milhas, em contagem decrescente
ansioso que se percorram velozmente
sem paragens nem contratempos…

viagens
em que os regressos não se querem,
mas que sem se pretender
se retorna sem aviso
uma vez mais

Bruno Ribeiro
Lx. 12.Jan.009

domingo, fevereiro 01, 2009

velhas canções

photo: nature inscriptions_eduardorosas


no amanhecer guardado
entre os símbolos da paixão
espalhados pelo chão
e sobre a cama abandonada
pouso versos de uma melodia
que te chama…
a cada reencontro de olhares!

o mar que varre
o ar que te banha
na brisa nocturna
da noite deixada
na cama vivida…
o velho piano de madeira
cujas teclas guardam a cor do tempo
e com marcas dos copos
nele pousados… saboreados…
os beijos,
nos lábios de sabor a tâmaras
e pequenos morangos
que guardo no gosto
demais uma vez te beijar…

velas que brilham
telas que se vivem, não exibidas
entre os galhos pintados
que dançam nos céus
assim se guarda
mais um e outro momento
em que te dispo com o olhar
e te toco com a ponta dos dedos
com o traçado dos lábios…

'sobre a almofada,
pousei uma rosa vermelha
que espera ser colhida
pelas tuas mãos…


nesse velho amanhecer
que nos transporta
a outro tempo, que recordo
pousado sobre uma rocha
olhando o mar a cantar
velhas canções… de te amar!

Bruno Ribeiro
Lx. 11.Jan.009

domingo, janeiro 25, 2009

uma carta para ti!

photo: segredo à luz..._heliz

olá meu amor!
escrevo-te sabendo que não me lerás
mas preciso de te dizer…
que tenho saudades de te olhar
muitas as de te beijar…
lembro-me das conversas à noite
em que te escutava e te olhava
enquanto falavas e te mexias
e como me encantavas…
posso não me lembrar de todas as palavras
mas recordo-me de todos os sorrisos…
e sempre que os recordo
não consigo guardar esta lágrima…
sorrindo…
sei que não me lerás
mas precisei de te escrever
as palavras soluçosas da saudade.
preciso de me encontrar
e seguir a minha vida
preciso de me libertar!

adeus meu amor!

deixo-te os beijos que para sempre te quis dar…

Bruno Ribeiro
PMS_21.Dez.008

segunda-feira, janeiro 19, 2009

sem destino

photo: a escada sem corrimão_heliz


rebolo entre os lençóis
que trazem estas insónias
que me despertam, impunes…


liberto o olhar
às perguntas que surgem
a cada instante sem resposta
franzino, eloquente.
percorro caminhos que desconheço
aqueles por onde os pés me levam
à procura… fugindo
sem fugir, sem procurar!
e se desconheço o que me rodeia e entendo
o que me rodeia desconhece-me e não me entende
harmonia ausente
entre palavras sem nexo
- talvez um dia volte.

Bruno Ribeiro
anywhere .. anytime nov.008

segunda-feira, janeiro 12, 2009

incógnita

photo: procuro-te no interior da penumbra_mariah

será vida,
esta que desatina amarga
entre as páginas de solidão
que se atropelam nos cadernos amarelados
do tempo, que se mantém áspero.

deslizar rude,
entre os capítulos do livro demente
escrito desde a tua partida.
à espera do capítulo da tua chegada
essa vã esperança, que me alimenta
quando, mesmo, já não consigo trincar
o ar que preciso respirar.

será vida,
esta que desatina sem esperança
na árida face da solidão
que pauta o meu percurso vago
entre lugares que te procuro
sem nunca… te encontrar…

deslizar rude,
entre os capítulos do livro demente
escrito desde a tua partida.
mas já não consigo escrever,
nem sequer chorar
e respirar já custa tanto
entre o sufoco dos segundos
e a inconstância dos momentos


Bruno Ribeiro
PMS, 27.Dez.008

quarta-feira, janeiro 07, 2009

luz da noite

photo: ground beneath her feet..._alba luna

as ruas escondem-se
entre as fachadas escuras
e as calçadas silenciosas…
só os meus pés varrem
as léguas que separam
o local onde estou sem saber
e o lugar para onde vou,
desconhecendo onde é!
desconfio que alguém me segue
neste trajecto sem vivalma
e depressa me apercebo
de que se trata da minha sombra…

as ruas escondem-se
cada vez mais cerradas
entre as escuras fachadas…
e os meus pés levam-me
sem saber,
ao teu encontro…
sem te conhecer!
e quando viro a esquina
no ponto onde o candeeiro foca…
apercebo-me da tua presença!
aproximo-me… sem saber,
e os olhos cruzam-se…
o teu cabelo solto
que se espalha pela rua
contorno do vento frio!
e o teu perfume que me chama!
as palavras são parcas
que se atropelam, por ter tanto a dizer…
e os gestos são nervosos
e minto-me, dizendo que é do frio…!

as ruas escondem-se
entre as fachadas escuras
e a troca de olhares…
que se estendem às palavras soltas
de te saber o nome, ouvir a tua voz.
mas a garganta está muda
e a voz engulo-a… sem saber!

agora vejo mais luz na noite
do que um dia de luz!
sinto mais calor
e as pernas tremem
mais do que pelo vento frio!
e noite após noite
percorro aquelas calçadas gastas
só para te ver
no ponto onde o candeeiro foca!
até que a voz retorne…


Bruno Ribeiro
Lx. 14.Dez.008