terça-feira, fevereiro 27, 2007

saudade…

… de olhar para o mar, ouvir as ondas, ouvir a tua voz;
… de procurar os beijos matreiros, sorrisos;
… de sentir a paz nos teus braços, no teu leito;
… de olhar para o céu e ver os barcos,
para o mar e ver o brilho das estrelas;
… de aproximar-me do teu corpo,
como as ondas acariciam a areia…
sinto o frio da tua ausência,
a sombria sombra da solidão,
de tudo isso tenho saudade!

Agora olho para o mar e nele escondo as minhas lágrimas,
procuro a memória dos beijos dados e recebidos,
sinto a angústia de não estar nos teus braços
e no céu e no mar os barcos partiram…
e as estrelas morreram – vento frio.
Abraçado pela minha sombra, única companheira,
atiro-me ao mar das minhas lágrimas,
um arrepio pela falta do teu calor,
a sombria sombra da solidão
e sinto o fado da saudade…


e no meu rosto escorrem secas as lágrimas das noites anteriores…

Bruno Ribeiro
Lx. 25.Out.06

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

murmúrios



leves como a pequena brisa fria
que sopra por aqui e ali…
vagueando nas pedras por onde
os meus olhos correm sem olhar!
carregados de desencantos
imagens tépidas de uma qualquer utopia
vejo-me incógnito no meu olhar!
fugindo de mim mesmo sem me mexer
percorrendo as pernoitas dos pensamentos
sem saber quem sou eu…
[aliás… até poderei saber…
só não sei o que serei…]

arranho as paredes sem lhes tocar,
profundas reticências no respirar
folheando o livro das memórias
que guardo no coração…
parto sem partir numa viagem
das mil perguntas sem resposta
das incógnitas sem certezas…
entro no comboio sem carris
de um qualquer sentido sem sentido
para um qualquer rumo sem rumo

‘grito sem ecoar qualquer som
neste silêncio que me incomoda
de não poder partilhar qualquer olhar
nos dias e noites de vida deserta


agarro-me ao violoncelo dos desenhos
e finjo sorrir a mim mesmo sem vontade
evitando olhar para qualquer espelho
que tenha esboçado o meu rosto
para não ler no verde dos meus olhos
a tristeza que me assola
e de uma desilusão e desalento
de uma qualquer vontade.
evito olhar para o meu ser,
pois o luto da paixão consome-me
e o desligar do pensar não existe
e logo lembra o que sinto.

corre verde,
a água nas paredes desta masmorra
e ouço os seus murmúrios
eco das lágrimas que por vezes renascem
nas páginas secas do meu corpo
estendo a mão
à espera que o dia do amanhã
seja melhor, tento acreditar…
mas quando a noite se acende
e o silêncio dos lençóis se faz
sinto a vida solitária de um deserto
que não escolhi.

Bruno Ribeiro
Lx. 30.Jan.007

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

acústico












encostado nas pedras húmidas de uma parede
agachado entre quatro paredes escuras,
sinto arrepios a atravessarem-me o corpo
linha de água gelada a escorrer na espinha
e lágrimas de nanquim a deslizarem-me no rosto

sempre que me apercebo do meu ser
entristeço num desespero de solidão
e é esse aperceber-me que existo
que me faz deslizar para o devaneio
de te desejar e não te poder ter!

ensopado pelas gélidas pedras,
só um pequeno rasgo de luz
ilumina aquele negro cubículo
e é nele que deposito o meu olhar
esperança do meu viver!

na minha cabeça,
acordes de um violino sem cordas
fragmentam os meus pensamentos
em viveres de outros tempos
cuja nostalgia do presente me destrói.

desilusões do presente, saudades do passado…
e é daquela pequena janela
que aguardo um futuro como ser solitário
- como que chora a tua ausência.

encostado,
perco-me no turbilhão do meu pensar
que só me leva a pensar em ti
esforço-me para esboçar pequenos sorrisos
em vão – não sei mentir!

assim aguardo que a coragem
me leve a levantar desta chão frio
e me guie àquela janela…
o que verei? não sei…

Bruno Ribeiro
PMS. 23.Dezembro.006

terça-feira, fevereiro 13, 2007

a rapariga dos olhos de mel


fragmentos de imagens,
varrem a inconsciência do meu ser,
percorrendo a banda desenhada
de sonhos diluídos na noites!
pequenos brilhos, pequenos nadas
criam pequenos esboços de sorrisos
nos crepúsculos de lágrimas caídas
pequenos nadas num cantinho do mundo
com grandes desenhos em aguarela
de olhos que desconheço
cintilantes como mil sóis…
olhos de mel sem rosto,
expressão melosa que me envolve
em fragmentos de sonhos
que desconheço.

pinceladas de curiosidade
abatem-se sobre o meu mundo
e no calor da noite
desejo partilhar o meu corpo
em brandas palavras doces
que se dizem sem falar…

Bruno Ribeiro

sábado, fevereiro 10, 2007

quadro negro


em fundo negro
de camisa negra, calças negras, sapatos negros
olhar negro das lágrimas de nanquim
coração assombrado
alma sombria
nuvens negras, sol negro, lua negra
estrelas apagadas, barcos ausentes
mas negro de ondas prateadas e negras
areia negra de negras rochas
palavras negras de frases solitárias
sangue negro de rios negros
das lágrimas negras que dos meus olhos brotam
como pétalas negras de rosas negras
que baloiçam com o vento negro
até cair no chão... negro
de folhas secas e mortas
sou a sombra da minha sombra, sombra negra
sou um quadro pintado com tinta negra
sem suavidade, sem respeito, sem carinho, sem amor
tudo em mim é negro
até o arco-íris é um degradé de cinzas
e não conheço qualquer outra cor


Bruno Ribeiro

algures em horas passadas

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

violino


Grito de dor longínquo… o eco, absorve as minhas energias, transforma-me, consome-me…
Olhares misteriosos, nas sombras de árvores queimadas, procuram saciar a fome com a peregrinação dos abandonados – espíritos maléficos a vaguearem como nuvens…
Caminho descalço neste pântano obscuro de incertezas, as imagens do passado perturbam-me e as certezas do futuro são vagas…

Mais gritos de dor distantes, em que o eco penetra no meu ser causando-me arrepios… o vento que faz oscilar as árvores [tempestade]. Lobos que uivam num bailado à candeia da lua sombria amarelada…
Arbustos em forma de cruz espalhados pelo caminho, percorrido por tantas almas desconhecidas de certezas esventradas.
Luz ténue e trémula esta que a minha sombra segura, sem rumo, sem norte [perdida]!
Sinfonia inquietante aquela que me faz olhar para o vazio, com os olhos a transbordar de água, melodias melancólicas, sons estranhos, sons soluçosos de corações a chorar para a eternidade, para o infinito da morte, sem descanso, ecoam entre as árvores negras sem sombra, espelhando a dor dos seus acordes.

Bruno Ribeiro

domingo, fevereiro 04, 2007

sentado à lareira a pensar em ti!


Sentado à frente da lareira,
Vejo as chamas a arder lentamente,
O som do vento lá fora, o frio…
Vejo-me na penumbra da tua ausência…

Estendo a mão, coloco mais um ramo,
Para que as brasas não esmoreçam
Como o amor que nutrias por mim,
Aquele que em mim arde!

Vejo as sombras na parede
Sombras do pasasdo e não-presente
Sombras que me entopem de sorrir
Porque o que sinto é demasiado grande
Para não partilhar…

Imagino-me deitado sobre o tapete
A ver as brasas da paixão a arder
Quando dois corpos se tornavam num,
Imagino-te aqui deitada…

Salpico as cinzas com lágrimas minhas
Por não te ter nem seuqer te ver…
Salpico como um quadro
De amor e saudade…

Ouço o som da lenha a arder
Quando queria era ouvir a tua voz
O brilho do lume
Em vez do teu sorriso…

Mais lágrimas neste quadro negro
De versos nostálgicos por te chorar
Pois é a tristeza que vive em mim
Por não te poder amar!

‘talvez te ame em silêncio
No silêncio penoso da solidão…
Pois nunca deixei de te amar
Desde que dei conta que existias!

A noite vai longa…
A lareira tende a adormecer
Mas eu não deixo de pensar em ti
Nem acordado nem a dormir…

Vagueio agora nas palavras
Da chama ausente da paixão
Pois sei que no amanhã
Na lareira respirarão as brasas do amor!

Bruno Ribeiro
PMS. 25.Dezembro.006