sábado, outubro 28, 2006

sobrevivência


Aprisionado em sentimentos contraditórios,
Nado num mundo de seda e aço,
Atraiçoado por mim mesmo
E pelo que sinto,
Incapaz de sorrir…
Incapaz de não chorar…
Palavras para quê?

Revoltado pela luta inglória,
Voo sem destino e sem poiso,
Embriagado pela dor que me consome
E corrói… e arde…
Pelo que sinto,
Pelo que vivi e agora sobrevivo…
Palavras para quê?

Enroscado entre pedras húmidas
De uma esquina escura,
Solto a violência da angústia
De me encontrar perdido
Em locais de areias movediças,
Pelos desejos assassinados,
Pelos sonhos corrompidos,
Palavras para quê?
Se delas não há resposta.

Ancorado em mares revoltos
Que contra mim projectaram incertezas
Voos rasantes de suspiros intensos
Sombras afugentadas pelo som das lágrimas,
Uma lua desatinada pelo meu uivo
Choro que emancipa as estrelas,
Dança de uma agonia imensa
Entre os lençóis de algodão negro
Incapazes me tirarem a dor
E de me esconder do frio…

Ai, solidão, solidão…
Que me respondes mil incertezas,
Que será dos versos apaixonados
Que ficaram por revelar?

Ai, solidão que me acompanhas…
Abraça a minha sombra,
Toca-me no rosto…
Sente a poesia negra que escorre dos olhos…

Ai… solidão…
Solta-me… abandona-me…
Como a um cachorro sem destino
E parte para longe,
Procura outra sombra enegrecida…
Deixa-me chorar… e sorrir…

Evaporo por entre as lágrimas
Que se perderam no labirinto da vida,
Evaporo por entre os fios de seda,
Que compõem as velas dos barcos
Que desejava não ver partir…
Porto de abrigo carregado de rostos pálidos…
Por verem partir tantos sonhos perdidos…
Mas… palavras para quê?

Foi este o caminho que me ofereceram
Sem eu ter escolhido…

Tento deixar a âncora,
Tornar a revolta em força e coragem…
Fugir da prisão invisível que me prende
E no meio desta encruzilhada,
Seguir em frente…

Mas grande é a saudade
De um coração apaixonado…
Sei que tenho de embalar este amor
E deixar algures…
Talvez na memória!

Bruno Ribeiro
Lx. 28.Out.06

1 comentário:

Anónimo disse...

Há âncoras que nos prendem o fundo do coração e da alma e por mais que queiramos seguir em frente o barco (o corpo) não se move). É difícil esconder e libertar a dor de um corpo em sofrimento...