domingo, outubro 01, 2006

a espera

rostos de lama,
olhares de sal,
esperas infinitas, naquele porto de abrigo,
palavras e sentimentos incertos,
desejos de retorno
e vontade de assassinar a saudade...
cantares rocos, que ecoam no mar
à procura de alguém,
filhos desconhecidos...
novos olhares, novas vidas...

e não voltam...
abrem-se olhares sobre o horizonte,
cegos pelas imagens que procuram,
mas o mar só mostra o espelho do sol...
a intranquilidade aumenta
e os grãos de areia cada vez mais abatidos,
mais pisados...
as ondas não trazem notícias,
só sentimentos incertos...

os olhares procuram,
os filhos...
os maridos...
os pais...
os avós...
os netos...
e o horizonte nada trás...

dão-se passos de esperança...
e desilusão,
fazem-se gestos de saudade...
e angústia,
dizem-se palavras para reconfortar...
e desconfiar.

mas continuam ali... à espera...
os minutos, parecem dias,
as horas, parecem anos...
é uma espera longa e vagarosa...
uma onda maior engana as gentes,
para logo as desiludir...
alguém grita o que vê,
quando na verdade nada vê...

começam-se a dar passos de ansiedade,
passos de engano e de lágrimas,
os olhares vão-se virando para outras margens,
para outros rumos, ainda incerto
ou então, apenas se fecham...
são cada vez menos os rosto de lama,
que ali esperam por quem não chega,
a esperança reduzida a cinzas...

agora só resta um olhar de sal,
um rosto triste...
um ser tenebroso e gentil,
só restam os lábios rosados,
desejosos de dizer - "olá!!"
tendo no horizonte um futuro desconhecido,
ali vegeta, chorando ansiedade,
ainda com a esperança de matar a saudade...

bruno ribeiro
março/00

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