domingo, abril 27, 2008

desassossego

photo: a liberdade da vontade_heliz


nevoeiro,
palavras que procuram um farol para assentar…
vozes preocupadas sussurram,
pensamentos inquietos que transpiram
entre trocas de olhares cansados…
perturbados…

livro rasgado…
pelo que foi dito e não dito…
pelo que foi feito e não feito
pelo que foi pensado ou ignorado…

fio-de-prumo,
que se enrola numa espiral
envolto em dúvidas, em si mesmo,
que desliza no vácuo do sentir!

e são as letras da calçada
onde escrevo no meu andar
a melodia do que sinto e penso
apetite voraz de te olhar!

Bruno Ribeiro
Lx. 10.Out.007

segunda-feira, abril 21, 2008

o velho piano

gotas de charme,
a cada toque suave e firme
que se estende por um piano rouco
do pálido tempo que lhe passou!
o pó,
que o envolve como uma teia
apodera-se da sua alma
enquanto o silêncio o beija…
mas o coração ainda bate…
e bate… e bate…
enquanto a esperança de voltar a cantar
permanece intacta desde o dia que nasceu!

ergo o olhar sobre ele
e estendo-me em seu redor
soprando… lufada de ar fresco
e dou-lhe voz!


são pétalas musicais
que voam até aos nossos corações
como bolas de sabão… voando
entoando acordes vibrantes
que dançam e nos encantam
que nos elevam aos céus
que nos libertam
que nos comovem…

são gotas de charme
de uma eterna sedução
que se exprimem sobre teclas…
e o pó que cai como as lágrimas
e o foco de luz que ilumina
os dedos mágicos que lhe dão vida!
enquanto o seu vulto
permanece na escuridão…

encanta…
delira…
vibra…
delicia…
enquanto a liberdade da tua voz soar
dentro do coração que te quer beijar!

piano… piano da vida…
não te cales…
sou o corvo que poisa em ti
deliciado, enquanto cantas!


a melodia que tu emanas
fazem delirar o meu ser
que se exprime na mão
que segura esta pena de corvo
que escreve com nanquim
nestas páginas amareladas pelo tempo
tonalidade das tuas teclas,
outrora elegantemente preto e branco
palavras surdas e mudas
cegas para quem nada sente
vazias para quem nada pensa!

'mas essas minhas palavras
morrerão na cinza das memórias
enquanto esses teus acordes
não se perdem na efemeridade do tempo!

Bruno Ribeiro
Lx. 18.Abril.007

sexta-feira, abril 18, 2008

passeio à beira-mar

photo: canção da geni_heliz

os pés afundam-se na areia
que se mistura apaixonada com o mar
sobre o manto estudo da noite
tão límpida, como o brilho do luar na água!
e a flor negra que nasce neste areal?
que nasce de lágrimas inocentes
sorrisos ausentes, passos deambulantes…

canto da sereia de cabelos negros
que me inspiras sem saber
o teu corpo dança sob o meu olhar
o teu perfil, prateado pela lua
ilumina o caminho dos poetas
e eu percorro esse caminho
sobrevoando pelo desconhecido
pousando num galho a teu lado!
uma fogueira acende-se por magia
e uma suave melodia entoa
neste silêncio que quebramos…
as horas caiem como estrelas
entre palavras que trocamos
e no amanhecer,
mergulhas para o mar
e eu subo a falésia
trocando sorrisos, imagem do teu rosto

Bruno Ribeiro
Praia da Falésia, 25.Agosto.007

terça-feira, abril 15, 2008

margens de solidão

photo: estamos todos bem servidos de solidão..._mariah

vagens do meu olhar
pesado de não te ver
sonhando com imagens tuas
sonhando acordado,
acordado sem sonhar…

vagens de lágrima utópicas
pois é de um olhar vazio de não te ver
que se ergue um rosto seco
das noites acordado sem dormir
sem sonhar acordado.

bate no vidro porque em mim não bate
a última folha sem esperança
de sonhos vagos sem sonhar
qualquer desejo que me invade
despido de qualquer ser
porque em mim não resido!

Bruno Ribeiro
Lx. 17.Out.007

domingo, abril 13, 2008

a fragrância do teu sorridente olhar!

photo: da leveza possível_Heliz


há fragrâncias que se guardam
tal como o olhar que paralisa
um outro nosso olhar.
sorrir, desconhecendo o motivo,
apenas por te olhar!
deslizando pela tela do teu brilho
na constância presença
de recordar esse jeito inconsciente,
por vezes, rasgando o provocador…

são memórias da tua fragrância
esse teu sorriso que recordo
neste meu presente a tua ausência
mar trivial de te querer falar
só para ouvir a tua voz!

áspero o trilho, penoso,
de quando um “até amanhã”
me faz afastar de ti!


Bruno Ribeiro
Lx. 24.Out.007

quinta-feira, abril 10, 2008

oásis

photo: o visivel e o invisivel_GABA


Banho-me nesta noite,
Em que esvoaço no olhar,
Presente em mim,
O tremido de um coração
Desalojado, que te deseja,
Dançando, ao som das ondas do mar
Em que o teu corpo
Seduz o meu, no olhar incógnito
De outras gentes!

Tu és o oásis,
Em que o delírio me leva a ver-te
Onde não estás…
… Sempre na imensidão
Do deserto em que me encontro
De não te ver!

Delírios que transborda
Entre o ressoar do vento
Que bate violentamente
Nas folhas de palmeiras
Que se estendem, não sei por onde!

Danço, entre o vazio das nossas sombras
Desencontradas e unidas…
No silêncio desta noite
Em que me banho!

Bruno Ribeiro
Punta Cana, 29. Março. 008

terça-feira, abril 08, 2008

deixa que te diga

photo: desespero_paulo madeira

Deixa que te diga
as saudades que me tocam em silêncio
e me beijam sem te olhar.
Deixa que o teu sorriso me siga
neste trilho dos sentidos que anuncio,
que me torturam ao te recordar!

Preciso de silenciar
estas palavras que não aliviam a dor,
tormentos de um passado
e porque temo lembrar
os sentidos que pautam esse ardor
que nasceu em mim. Cansado

de olhar para lágrimas caídas,
vazadas nas minhas mãos
pousadas em silêncio no meu
escutar as palavras idas
que se erguem nos tempos vãos
momento em que o coração morreu!

Deixa que te diga
através do olhar aquilo que sinto
pois a minha voz desmaia
no rio que desliza
sobre o meu rosto que pinto
com o sal em que me esvaio.

Bruno Ribeiro
PMS. 27.Out.007

sexta-feira, abril 04, 2008

caminho da morte


Percorro caminhos nos palácios romanos
Sinto o odor do público a aclamar
O nome do meu carrasco
Sinto a humidade que escorre
...........................Das paredes de pedra
Nestes caminhos do subsolo
Sinto o som do afiar as espadas
O som dos cavalos…
Saboreio no ar o sabor da areia
Que se banha no centro da arena
Percorro os calabouços dos palácios
Por entre a multidão que vibra
Por um qualquer meu desconhecido

Ar pesado,
Sinto o suor do público
A ferocidade e a alegria
Sou atirado para o desconhecido
Enviado às feras do apocalipse…

Percorro os escombros dos meus passos
Sinto o fervilhar do olhar do carrasco
Que se ergue à fome
De lançar a espada para me esventrar
Estendem-lhe uma mesa de armas
Panóplia do aço da morte
Ergue uma espada e um escudo
O som ensurdecedor da multidão
Metal contra metal
Espada contra escudo
E a multidão a vibrar…
Sinto o odor da carne
E o carrasco à espera
De poder começar a triturar-me
Ergo o olhar ao desconhecido
E os pensamentos estão longe dali!

Na tribuna todos apostam
Duvido que alguém aposte em mim,
(por certo seria perda de ouro)
Alguém se ergue…
Levanta a mão…
Sinal do início do festim
Em que a minha carne será banquete

O carrasco volta a erguer
O escudo e a espada de metal
O público aplaude…

Eu ergo uma pena de corvo!

Bruno Ribeiro
Lx. 3.Nov.007

terça-feira, abril 01, 2008

fechar os olhos

photo: refugiei-me dos teus sentimentos_ daniel oliveira

apenas quero fechar os olhos
e adormecer…
e quando o sol raiar
e os pássaros começarem a cantar
e por fim eu acordar
tudo isto ter passado por sonho…
um mau sonho,
bom pesadelo…

quero fechar os olhos
e quando os abrir, tu aqui!
poder olhar-te e sorrir!
poder tirar o peso que acarreto
finalmente respirar!

fechar os olhos…
e adormecer sem ter nada
a atormentar
nenhuma farpa cravada
nenhum pedaço de vidro
nenhuma faca ou espada
em chama ardente!

os olhos,
adormecer saboreando o teu corpo
com os dedos e o olhar
olhar nos teus olhos e sorrir
beber do teu sorrir
e beijar os teus lábios
saciar a sede dos teus beijos

olhos…
que possam parar de chorar
as lágrimas secas
que me afogam
e por fim, abrir uma brecha
de luz no meu coração!

apenas quero fechar os olhos
e poder dizer o que sinto
com uma palavra
com um gesto
com um olhar
com um beijo…

Bruno Ribeiro
Lx. 1.Nov.007