sábado, outubro 11, 2008

O último desabafo

photo: unknown

Quando as palavras se escorregam das mãos e a vida se cruza num olhar fugaz, questiona-se o que se sente, o que se pensa, o que se deseja…
Quando as mãos em forma de concha se estendem, entre um olhar terno, veracidade de um sentimento…
Quando se vê atravessar o ar vazio de uma solidão não desejada, jamais qualquer palavra fará sentido, num qualquer sentido sem sentido.
Fugaz como a brisa que se perde entre uma tempestade, e a gota de água que se esvanece no mar diluindo-se como o meu olhar entre as vagas das lágrimas que teimam em escorrer no silêncio do meu sentir, o que por ti sinto.
São vagas de ternura, olhar que jaz numa praia vivida e vendida num qualquer gesto!
São estas as palavras sem sentido que esvoaçam entre luares que tento esvaziar dos sentires tristonhos em que me encontro que num colapso teimo em relembrar, sem vontade de o sentir!
Jaz em mim a paz absorta da violenta solidão a que a minha sombra me acompanha, no vazio imenso da tua ausência de um cruzar de olhares.
A carvão, desenho no meu olhar as lágrimas secas e o grito mudo, da dor presente e árdua, flor espinhosa e viva que me encurrala num pensamento viril.
Já me perdi e agora tento encontrar-me, entre passos cabisbaixos de uma caminhada silenciosa, que brota em cada meu olhar, ténue ardor de quem mais não consegue chorar uma dor que por vezes já não entendo!
E a cada renascer da escuridão da noite, em que o silêncio me ensurdece, perco-me nos pensares e sentires, crepúsculo do meu viver.
Por fim, pouso a caneta, a viola, paro sem saber onde nem porquê, deixo o caderno para trás.
Pois já nem assim o consolo me abraça e alivia…

Cada vez maior o silêncio à minha volta e desisto…

Bruno Ribeiro
entre o cair e o silêncio

7 comentários:

Pearl disse...

A desistência de alguem que se calhar fez tudo antes de desistir!
Que mesmo na derradeira desistência almeja ainda permanecer combatente mas travando a ultima batalha...desiste!

beijo

Freyja disse...

Caro Bruno,


Um dia deixas-te no meu canto um alento de esperança. Palavra que não esqueci!

Hoje gostaria de te dar numa bandeja de prata toda a coragem e força que me deste… sinceramente? Acho que não consigo… Assim sendo, limito-me á minha visão de ti, esperando profundamente ser, as minhas palavras, as mais erróneas.


Hoje sinto-te a rumar além da linha do Horizonte do desespero, e antevejo a tua dor. È mais difícil rumar no mar do silêncio do que no mar das lágrimas. Vejo-te partir na bruma das palavras e despretensiosamente te aviso que o abismo para que rumas é o maior inferno na terra. O silêncio por opção, porque não há palavras, nem expressões que o definam. È a negação da vida exterior perante a estéril água que nos inunda. Relembro-te que o abismo fede na sua profunda podridão das carcaças lá deixadas, que o húmido que sentes e se escorre pelas pantanosas paredes é as tuas ressequidas lágrimas que congelaram formando estalactites cristalinas onde se reflecte a não luz. È o vazio, o vácuo, o nada. È o tecto que se encolhe e mingua o oxigénio entre o desfazer das moléculas do espaço entre ti e o chão. Chão esse, que ainda não alcanças-te porque a queda no abismo é interminável e não haverá lágrimas imensas que te façam submergir o corpo á superfície, remetendo-te assim ao profundo, imenso e negro silêncio da clausura interna. Não desistas… o inferno é um adjectivo amoroso face à realidade do silêncio.


Queria-te ver a remar contra essa maré avassaladora que te chupa para o vortex do teu deprimente ser. È um estado de alma combatido a ferro e fogo diariamente com sangue, suor e lágrimas.


Não vás…

Se decidires ir mesmo assim, no intuito de sufocar a dor, relembra que poderás sempre encontrar um remo a mais… quem sabe, nessa tua abrupta partida, não encontrarás ramos que se arrombem o casco e te façam parar na tua brutalmente descida vertical.
Se decidires ir mesmo assim… deixo-te aqui a minha pequena mão no intuito de te transpirar o calor do esforço que é remar.

Não vás…
È tudo tão mais insuportável...

Beijo além de terno,

Som do Silêncio disse...

....

Moon_T disse...

curioso que ao ler este excelente texto noto que a mensagem é a afirmaçao do oposto que escreves.

impulsos disse...

Bruno
Não sei do que gosto mais, se dos teus poemas, se da tua prosa...
Ainda assim, sinto-te imensamente perdido num vale de solidão e de sofrimento.
Não sei se ao escreveres este texto te quiseste libertar de alguma forma desse teu sentir, talvez virar a página e recomeçar numa nova em branco ainda, ou se simplesmente sucumbes por nada mais existir que te faça deixar de sentir como sentes o que sentes!
Sei de que nada valerá o que mais te possa aqui escrever, mas quero que saibas que um dia também, já sofri assim... sei como dói, sei de que cor se veste a solidão profunda e também sei que só há uma forma de sair, recomeçar de novo!

Deixo-te um beijo terno...
Aceita-o como uma forma de carinho, ainda que virtual.

O BEIJO

Anónimo disse...

O Renascer?!
Curioso... onde muitos sentem um fim, outros notam um recomeço.
Será?



Um beijo.

ivone disse...

sábado onze estive aqui. li reli.não havia ainda comentários. tinham passado só umas horas de teres escrito isto. estranhei_te. gostei_te. assim. ainda mais. não quis dizer_te nada. saí e interiorizei_te. mais. ainda mais. voltei hoje de manhã. e ainda não consegui dizer_te o que te quero falar. há sinais de mudança em ti. não nos sentires. na escrita. e esta tem de longe muito mais a ver comigo. até parece que começamos a falar a mesma língua.falas na mesma da solidão. do vazio. da ausência. e quando não o fazes? raramente.

"Quando se vê atravessar o ar vazio de uma solidão não desejada, jamais qualquer palavra fará sentido, num qualquer sentido sem sentido" com sentido sentido. consentido! se assim não fosse não escrevias assim.

pensa no seguinte: quando tudo te fizer sentido deixas de escrever.

bj sentido sem ti de


mim