quinta-feira, junho 24, 2010

as folhas caiem a meus pés


photo: luzinterruptus in madrid



percorro caminhos. queles das ruas que levam a outras ruas.

daquelas que levam a uma qualquer esplanada, ao jardim, à praia, à livraria ou ao cinema.

daquelas que se iluminam à noite por pirilampos eléctricos.

ruas já gastas por vezes, de tantos passos bem ou mal passados, ruas novas e ruas velhas…

caminhos em que as folhas caiem a meus pés…

mas em algumas ruas nem sequer existem árvores e nas que existem encontram-se floridas ou já com frutos.

então porque caiem as folhas a meus pés?


percorro caminhos. aqueles das ruas que levam a outras ruas.

daquelas que levam a um qualquer cruzamento.

daqueles em que nos perguntamos para onde ir ou procurar indicações plantadas em estacas, datas e lugares históricos…

ruas que se prolongam e se estendem entre ruas, largos, praças e pracetas, becos sem saída ou becos românticos.

caminhos em que as folhas caiem a meus pés…

o sol pendurado, a temperatura quente que se faz sentir nas gentes que se cruzam entre as ruas de tantos caminhos, a bancada das frutas, o cantar da peixeira, o eco do fado, a carrinha dos gelados, os balões atados aos pulsos dos miúdos e os que se afastam e provocam o fim do mundo no olhar da criança…


e as folhas continuam a cair, naquela dança que paira no ar, se prolonga e sente o vento, a brisa que beija nos rostos das pessoas que passeiam nas ruas.

aquelas por onde o meu caminho passa…

folhas amarelecidas, secas, ruas, despidas da árvore-mãe ou do livro-pai, folhas de diversas formas comidas e roídas, folhas machucadas do caderno velho que me acompanham.

folhas caídas que do coração canta entre as ruas em silêncio, melodia apenas para quem quer escutar… sim, escuta… aquela brisa que nos beija o corpo e se ouve por entre os passos…

folhas que caiem aos meus pés, suavizadas pelo tempo, para alguns apenas caídas e não largadas.


percorro caminhos. aqueles das ruas que levam a outras ruas e, escrevo linhas com palavras que levam a outras palavras.

daquelas que se fazem sentir.


Bruno Ribeiro

PMS, 22.junho.2010

3 comentários:

Sofia disse...

Simplesmente magnífico.

Lylia disse...

cito te :

"percorro caminhos. aqueles das ruas que levam a outras ruas e, escrevo linhas com palavras que levam a outras palavras.

daquelas que se fazem sentir."

e sente-se imenso por aqui.

Lúcia

T.Poeta disse...

só. g e n i a l

o meu abraço de amizade. como sempre

T.