terça-feira, novembro 28, 2006

Vertigem


Trepo o ar.
O vento beija-me a cara… acaricia-me,
O sol aprecia…
Pessoas incrédulas oferecem o olhar
À procura das respostas incompreendidas…

Folhas de Outono deixam-se cair,
Passam ao meu lado incógnitas…
Finalmente os degraus em caracol param!
Sustenho a respiração… hesito…
Procuro o horizonte, procuro respostas…
Abraço-me às grades que protegem os transeuntes,
Interrogo-me…
Suspiro… respiro fundo…

Por que olhar para o que não quero
Causa-me turbilhões mentais,
Tudo gira sem rumo,
Roleta russa!
Uma bala perdida…
Não quero pensar…
Não quero sentir…
Não quero olhar…

O vento agora sopra… mais intenso,
Agonia… incerteza…

As pernas tremem,
Recuso a mexer-me
Mas também não posso ficar parado,
Dou um sinal de coragem,
Um passo em frente,
Tudo se move, tudo gira…
Tudo se perde…

Uma pétala caída,
De uma rosa negra, lágrima minha.

Mecanicamente deixo-me embalar,
Sons metálicos ecoam,
Mil pensamentos varrem o meu ser,
Enquanto me perco a olhar o vazio,
Penso…
Lembro-me…
Olho para o chão… Choro…

Passado um minuto chego à terra!
Suspiro uma vez mais,
Pareceu uma eternidade,
Quero-me levantar, não consigo…
Uma porta abre-se – rua.
Lembro-me uma vez mais – saudade.

Faço o percurso da calçada até ao rio,
Abraço-o…
Embalo a única certeza que tinha,
Numa garrafa de vinho… vazia!

Içada a vela,
Levantada a âncora,
Parte… sem destino!

Fico a olhar…
Saudade,
O fado das gaivotas…
A garrafa perde-se no horizonte
Mas finjo ainda vê-la,
Deixo-me estar…
É noite… O sol amanhece…
Está alto… adormece…
Deixo-me estar.

Amanhece uma vez mais… ainda a vejo!

Bruno Ribeiro
Lx. 29.Out.06

quinta-feira, novembro 23, 2006

numa esplanada junto ao rio

Numa esplanada junto ao rio,
Noite…
O cheiro a café
da chávena que me faz companhia.

Mesa, cadeiras vazias,
Um deserto árido,
Uma árvore seca,
Corpo ausente… o teu!

Olhares que se perdem
No vazio inconsciente das noites
Em que a tua ausência
Se torna como um peixe fora d’água.

Um arrepio na espinha – frio?
Calor do gelo que me invade
Desde que a partida foi solução…
Procuro na estrada o teu rasto… em vão!

Numa esplanada junto ao tio,
Desenho a saudade,
Escrevo sons das lágrimas derramadas
Em tons de violino!

Pestanejo a luz dos candeeiros
De chama tremulente
Como as ondas do mar…
Pergunto porque partiste…

Rabisco no ar versos que me levem até ti,
Linho azul que sempre corre,
Cascata de mártires,
Crus dos condenados…

Numa esplanada junto ao rio
Parto para nenhures,
O caminho para o nada,
Perdido no tempo…

Bruno Ribeiro
Lx. 29.Out.06

segunda-feira, novembro 20, 2006

il caffè di roma

imagino como estará o mar...
num ir e vir de pensamentos,
distante, presente, emotivo.

imagino como estará o céu...
no ir e vir das nuvens
que acompanham as ondas,
ausentes, incógnitas...

imagino como estarão as estrelas e os barcos...
os grãos de areia e as pegadas na praia...

imagino tudo de olhos abertos
sonho com tudo de olhos fechados
grito, não faz eco...
não sai som...

pergunto-me se algum dia
o mar levará as lágrimas que chorei...
se voltarei a sentir o calor no rosto,
alegria na alma, descanso no coração....
será que a música me responde?



Bruno Ribeiro
Lx. algures no tempo

sábado, novembro 18, 2006

agonia

Saber o que sinto e ter de esconder, trancado a sete chaves prestes a explodir, mas não posso revelar. Mostrar-me forte quando por dentro é um aperto… parece uma corda à volta da garganta, um colete-de-forças a sufocar o corpo, tão grande que é este sentimento!
Já passou por tempestades, cataclismos, ventos fortes, chuvas tropicais mas foi e é sempre constante e infinito como o céu, tão presente… tão activo… e quando me desorientava descobria sempre o caminho de regresso como as estrelas que à noite orientam os marinheiros!

Junto dos outros tento sorrir, quando por dentro tudo desaba… e quando me vejo apenas na companhia da solidão e da minha sombra, dos olhos jorram lágrimas que parecem pedaços de vidro a brotar dos meus olhos, rasgando a carne enquanto deslizam pelo meu rosto.

Tento parecer que estou bem, quando na verdade não estou e tento não pensar no que o coração sente para não me magoar mais ainda.
Como o mar pode dar vida e tirar… como pode abrir o livro da felicidade para depois o fechar…

Tento refugiar-me assim na escrita de versos, mas a onda da poesia não vem, pois as palavras são efémeras para o que tento guardar dentro de mim, bem escondido como um tesouro de piratas, só espero que os meus olhos não me traiam.

Bruno Ribeiro
Lx. 25.Out.06

sexta-feira, novembro 17, 2006

Chiado Confidente


Procurei os versos das ruas e a poesia do bairro nas palavras deixadas e escondidas nas suas texturas, procurei um dos capítulos de Lisboa, escutei os seus sons, inalei os cheiros, olhei para o seu rosto, tacteei o Chiado…

Procurava respostas de perguntas incompreendidas, senti o sol a atravessar o meu corpo, falei com as sombras, vivi-o… enquanto passeava pelas calçadas gastas de vultos desconhecidos, anónimos que ali vagueavam e assim me tornei noutro deambulante que dançava nas suas vestes de texturas diferentes, enquanto deixava mensagens silenciosas, perdidas num lugar de poetas… lágrimas que desciam pelos carris dos eléctricos e jaziam no rio.

Deixei que as horas passassem por mim enquanto trocava segredos com esta zona nostálgica, procurava poesia que noutras épocas juntavam as pessoas em tertúlias nos cafés que me mostrassem o caminho que fizesse escrever as lágrimas que dos meus olhos teimam em não cair…

O sorriso das pessoas, alegria… aquele tão belo sentimento que perdi, que me abandonou… Por vezes esquecia-me do passado e noutros era incapaz de não me lembrar do teu rosto – simplesmente aparecias, naqueles momentos magníficos que o Chiado oferece a qualquer instante imprevisível e que gostaria de ter partilhado e que agora vivo passeando de mão dada com a solidão.

Bruno Ribeiro
Lx. 28.Out.06

quarta-feira, novembro 15, 2006

rabiscos


Rascunho perto do rio Tagus
Palavras inocentes de sentimentos.

Entre amigos,
Disparates e sorrisos
Levam-me a entrar num delírio
De alegrias momentâneas…

Não te esqueci… não consigo!

Penetro por ruelas estreitas
Belas desconhecidas…
Umas degradantes,
Outras que nos levam para outros tempos…

Perdido,
Não nas ruas…
Mas sim nos pensamentos
De distâncias intransponíveis…

Em cada esquina – uma cusquice,
Em cada largo – uma festa,
Em cada esplanada – um lugar vazio!

Corro para apanhar o eléctrico
Quando queria era correr para ti,
Mas a tua mão afasta-me
Em vez de me abraçar…

Rabisco uma lágrima no ar, caída…

Uma pétala,
Folha de Outono,
Também ela a morrer…
Suspiro por fim, o último!
Olho para todo o lado,
Procurando qualquer sinal teu
Apesar de saber que nada acontece…

Percorre…
Em pensamentos meus
O passado nosso!

Perco as forças
Que já não tenho – vou ao chão.
Estendo o meu corpo
Num movimento rápido…
Jazo nas pedras da calçada a chorar…

Bruno Ribeiro
Lx. 1.Nov.06

segunda-feira, novembro 06, 2006

uma viagem qualquer


Ouvindo uma música tremulente
Numa viagem qualquer…
Encosto o rosto ao vidro
Olhando para o vazio do céu…
De textura de algodão cinza…
Também ele chora!
Mas desconheço as suas razões…

Deixo-me estar!

Árvores de variadas cores marcam o percurso
De tonalidade castanho-avermelhada
Outras reflectem o esverdeado dos meus olhos…
Pousadas no tempo
Agarradas à vida!

Rios correm sem parar…
Aguarelas das minhas lágrimas.

Mais uma viagem qualquer
Sem ti como companhia
Sem tu como destino.

Bruno Ribeiro
Lx-Lr. 6.Nov.06

domingo, novembro 05, 2006

breve passeio – cabisbaixo


De capuz posto, escondo o rosto.
O olhar perdido na calçada
A contar as pedras que a sombra acaricia…

Chove,
Ergo o olhar para o céu
Com a esperança que a chuva
Dilua o sal do meu rosto….

Fujo da luz dos candeeiros,
Permanecendo na penumbra,
Roteiro da escuridão!

No meio desta chuva,
Ouvem-se os pingos das minhas lágrimas secas,
Pequeno dilúvio…

No céu rasgado
Por esquiços de tempestade,
Ecoa o despedaçar do meu coração!

Perdido,
Vagueio por cidades desconhecidas
Permanecendo despercebido
No meio de um nevoeiro cerrado.

Bruno Ribeiro
PMS, 5.Nov.06