nas tuas mãos eu voo... como um pássaro a rasar as nuvens sobre a água, sobre um nenúfar. voo livre... entre passos nossos passos sou eu despido de mim sou eu num corpo que desconheço apenas me deixo voar assim...
voo... junto a ti eu voo... como o vento no teu cabelo sobre o teu rosto, sobre o teu corpo. voo livre... entre olhares nossos olhares sou eu despido de mim sou eu no corpo que te conhece apenas me deixo voar assim...
voo... nas tuas mãos eu danço... como um beijo entre os nossos lábios sobre a tua boca, sobre o teu corpo beijo livre... entre paixão a nossa paixão nós despidos de nós os nossos corpos que se conhecem e apenas me deixo dançar assim...
Faz frio.
Os olhos latejam de guardar as lágrimas que irrompem do olhar perdido no horizonte, perdido entre sentimentos e lembranças de um passado que se queria futuro e que seria um dia passado.
Lágrimas que se solidificam em punhais erguidos que saqueiam a espera
sinto-me numa espiral de areias movediças,
inquietas e pacientes
que me esperam numa luta que promovo
para me erguer...
espiral que me contorce
entre sentimentos, desejos e sonhos
entre um gostaria que fosse
e um gostaria que não existisse...
sinto-me num epicentro de um furacão
que me contorce e destrói
a existência de quem sou
a identidade do que sou
os sonhos, os desejos e os sentimentos...
o que gostaria que fosse
e o que gostaria que não existisse...
igualo-me nos sentimentos
amor e dor!
igualo-me nos desenhos do rosto
sorrisos e lágrimas!
intemporal!
que gostaria de conhecer fim.
e quanto mais luto mais as areias me engolem
e quanto mais esperança tenho mais preciso de lutar
e as areias que engolem as esperanças...
e quanto mais luto mais me perco...
e se não luto, submeto-me à desilusão
de um silêncio que não desejei
de uma partida que não sonhei.
sucumbo,
entre as formas do passado
e o abraço terno das memórias
sem a precisão dos contornos
embaraço dessas formas
que se movem como o nevoeiro
esvoaçando entre tempos.
sucumbo,
entre as palavras do momento
e os gestos presentes
que me desvanecem no ar
esmagando o coração
num sufoco que me encurrala
entre as lágrimas do meu olhar.
as parcas palavras agora escritas, serão ausência dos sentidos e sentimentos ou a manifesta vontade de não transmitir esses mesmos lados do olhar?
se por um lado se manifestam no silêncio das páginas brancas e se escutam apenas enquanto são escritas pela caneta que transporto na mão, por outro revelam a vontade de transformar o hoje e amanhã para que o ontem seja sempre risonho e transmita o gosto pela vida e o agradecimento pelos momentos vividos, por vezes únicos!
o sol, nem sempre quando nasce se manifesta da mesma forma e ninguém pode negar que nasce e ninguém é insensível às suas feições.
por isso, quando me levanto, há a tertúlia do amanhecer e um sorriso ou a busca do mesmo.
podem existir dias complicados, mas temos de acreditar, que serão por um momento instantâneo o próprio momento em que se vive, o próprio hoje, que ontem foi futuro e amanhã é passado.
e como o nascer do sol é inevitável, por isso, viver o momento porque só temos um hoje - este!
o resto, são circunstâncias do tempo
é inegável que nunca recordamos o futuro, apenas o passado e por vezes tão embrenhados nesses momentos esquecemo-nos de conjugar o presente.
percorro caminhos. queles das ruas que levam a outras ruas.
daquelas que levam a uma qualquer esplanada, ao jardim, à praia, à livraria ou ao cinema.
daquelas que se iluminam à noite por pirilampos eléctricos.
ruas já gastas por vezes, de tantos passos bem ou mal passados, ruas novas e ruas velhas…
caminhos em que as folhas caiem a meus pés…
mas em algumas ruas nem sequer existem árvores e nas que existem encontram-se floridas ou já com frutos.
então porque caiem as folhas a meus pés?
percorro caminhos. aqueles das ruas que levam a outras ruas.
daquelas que levam a um qualquer cruzamento.
daqueles em que nos perguntamos para onde ir ou procurar indicações plantadas em estacas, datas e lugares históricos…
ruas que se prolongam e se estendem entre ruas, largos, praças e pracetas, becos sem saída ou becos românticos.
caminhos em que as folhas caiem a meus pés…
o sol pendurado, a temperatura quente que se faz sentir nas gentes que se cruzam entre as ruas de tantos caminhos, a bancada das frutas, o cantar da peixeira, o eco do fado, a carrinha dos gelados, os balões atados aos pulsos dos miúdos e os que se afastam e provocam o fim do mundo no olhar da criança…
e as folhas continuam a cair, naquela dança que paira no ar, se prolonga e sente o vento, a brisa que beija nos rostos das pessoas que passeiam nas ruas.
aquelas por onde o meu caminho passa…
folhas amarelecidas, secas, ruas, despidas da árvore-mãe ou do livro-pai, folhas de diversas formas comidas e roídas, folhas machucadas do caderno velho que me acompanham.
folhas caídas que do coração canta entre as ruas em silêncio, melodia apenas para quem quer escutar… sim, escuta… aquela brisa que nos beija o corpo e se ouve por entre os passos…
folhas que caiem aos meus pés, suavizadas pelo tempo, para alguns apenas caídas e não largadas.
percorro caminhos. aqueles das ruas que levam a outras ruas e, escrevo linhas com palavras que levam a outras palavras.
Sem medidas, os pensamentos intersectam-se vagamente entre os sentires que se embalam nas noites em branco e as folhas de papel que rasgam o semblante da noite.
Inconsciente, ou, talvez, nem por isso, o silêncio é também cortado com o suspirar da caneta pousada na mesinha de cabeceira, deitada ao lado do caderno preto que espera pacientemente que num ou noutro momento o abram.
Sem palavras, ou qualquer vontade de as [des]escrever, nega-se à vontade de transcrever o que se sente ou o que se pensa e tenta-se assim evitar o inevitável - jorrar palavras.
Assim, é a paciência inesgotável do livro e a vontade de não lhe olhar que se encontram noite após noite e no dia entre dias.
Mas cá volto, para agradecer a todos os que gostam de ler o que escrevo, as visitas que continuam a fazer dia após dia, apesar de o tempo entre os textos ter aumentado.
Foi difícil parar de escrever, como foi difícil aguentar não o fazer, mas foi uma vontade que tive de superar, para me ajudar a encontrar, em busca do caminho que parecia perdido, era necessário perceber que quando uma porta se fecha, se podem abrir muitas mais, e por vezes janelas enormes e não nos podemos negar de espreitar lá para fora.
Parar de escrever era necessário para que palavras mais brandas e olhares mais ternos se pudessem aconchegar nesta Tertúlia.
Um dia, sem dúvida, o tempo entre os textos apresentados diminuirá novamente, e os sentires dos mesmos serão mais amenos e quentes, até lá, cumprimentos a todos.
É com este sentimento que entrei neste novo ano, findo um mês, tento aguentar com o mesmo optimismo as minhas primeiras palavras do ano "Vai ser um Grande Ano"... Apesar das contrariedades, das sombras do passado, do nevoeiro do futuro... vai ser um grande ano...
Num destes dias, fui a uma praia que me diz muito, pousei o carro num lugar vazio e saí, percorri a marginal a pé, com o vento frio a bater no rosto... olhava o mar...
... dei por mim com a chuva miúda a arrefecer-me o corpo, mas o coração batia forte!
Eram passos solitários nessa praia, a caminho das rochas de um passado gravado, cantava a mesma canção do mar... reconhecia-o... o mesmo mar que me banhou tantas e tantas vezes com um enorme sorriso de felicidade, onde dei gargalhadas espontâneas, onde o tempo não importava. O mar que naquele dia me reconheceu e desenhou na sua face baladas de saudade com a espuma!
Parei numa rocha que repousava e pensava na vida, ela não se incomodou pela minha presença e deixou-se ficar, enquanto me sentava olhando o mar, escutando-o... falámos por uns momentos e de seguida silenciámos e ficámos assim... olhando um para o outro pensando no passado pseudo-longínquo.
Por um momento a rocha perguntou como me sentia e em breves palavras voltámos aos nossos pensamentos e uma vez mais encontrei-me ali, na mesma tela onde me encontrar noutros tempos, com outro rosto, outro sentimento...
Algures entre o tempo que tinha passado naquele momento perguntei-me se o meu rosto estava molhado pelas minhas lágrimas, pelo conforto da espuma do mar que me beijava ou pela chuva miudinha e gelada que me abrigava... não quis saber.
Talvez tenha sido uma lavagem da alma, do coração e do corpo, talvez tenha sido um alívio qualquer momentâneo, até pode ter sido um regresso ao passado à procura de uma felicidade perdida, ali, entre os grãos de areia...
... mas sei que este será um grande ano!
Não sei se terei forças para resistir à tentação de procurar no passado momentos de felicidade que me alimentem no presente, nem tão pouco sei se voltarei a sentir aquele sentimento que fez desenhar no rosto uma lágrima com a espuma do mar, mas sei que no próximo passo me afasto um pouco mais desse passado e no seguinte me aproximo ainda mais do futuro.
... com este olhar que se perde entras as sombras das pedras da calçada e o rasto das formigas.
... com este olhar que escuta o silêncio dos diálogos entre as pessoas à minha volta não estando presentes, entre os passos que atravessam a rua nesta rua despida de gente, entre o vento que sopra e que move qualquer som entre os ramos das árvores... mas nem o vento corre, nem as árvores sequer têm força para balançar com o vento... aliás...
Varro o chão neste silêncio da calçada que me abraça sem a minha vontade, e que vontade ter e perder, sem sentir por fora o que por dentro sinto, momentos em que te recordo em que me esqueço de não te lembrar...
São acordes de violino os que penetram na minha alma, vivendo no silêncio que me circunda entre gritos de desespero que me enche mas não se solta
é neste estado, que me sento na cadeira que acompanha uma mesa perdida numa esplanada vazia, em que o empregado de mesa repousa algures e a lua é o candeeiro que ilumina escondida pelas nuvens. é neste estado, que estendo... o caderno já cansado das palavras e pouso... a caneta gasta e rouca de tantas conversas entre o que sinto e as páginas esquecidas... e é neste estado que sangro do corpo as palavras que embalam uma vez mais as insónias...