sexta-feira, fevereiro 27, 2009

margens que se aproximam

photo: a noite tem feito a sua teia _mariah

quantas margens
tem este rio que nasce no mar
e desagua no olhar…
que se estende
à imensidão da distância
daqui aí…
distância dos nossos lábios…
quantas margens
tem esta página que nasce da mão
e desagua no coração…
que te sente
a cada pulsar e dista
daqui aí…
distância dos nossos olhares…

segredo-te
cada palavra que sinto
e escuto
cada calambear das palavras
que percorrem a voz rouca
que nasce em mim
e desagua em ti…
são breves entre os segundos
que se diluem no infinito
este sentir e pulsar
o quanto bate o coração
por ti!
são eternos entre os segundos
que se diluem nos momentos
este sentir e desejar
o que por ti o meu corpo sente
vontade de te beijar…

Bruno Ribeiro
PMS, 29.jan.009

domingo, fevereiro 15, 2009

pousado na pedra polida pelo mar bravio

photo: o cântico do shamã_heliz

uma pedra repousada no tempo
no meio de tantas outras
semelhantes, frias…
polidas pelo mar bravio,
tatuadas pela espuma branca…
nessa pedra guardada
na memória da minha existência…
sento-me,
olhando para a tela que me absorve
esse mar imenso… irrequieto…
no mesmo lugar onde já estivemos
a amarmo-nos com o olhar!
a espuma do mar,
relembra-me os segredos partilhados
jamais revelados. doce confidente…
este mar!
que me espreita, agora sozinho,
ali pousado, como um pássaro numa galho.
absorvo a brisa dos últimos raios de sol
que me aquecem num último momento!
e permaneço…
engolido no tempo…
que me desfaz… entre pensamentos,
que vagabundos, recorrem a mim
para se soltarem… inquietos…
guardo-me, naquele recanto
da encosta despida,
sobre a pedra cinzenta
polida pelo mar bravio…
perco a consciência que existo
navegando no mar,
através dos sentimentos
embarcado no olhar
que se estende no azul infinito
e termina no algures
das lembranças pousadas
na gaveta escavada
do meu sentir!
esse marinheiro de ilusões…

deixo-me estar,
com a espuma do mar
o meu rosto beijar,
e segredar
o teu relembrar…


não te esqueço,
mas para te lembrar
preciso de abrir a gaveta
escavada em mim
e a chave está pousada
sobre a pedra polida pelo mar bravio…


Bruno Ribeiro
Lx.21.jan.009

terça-feira, fevereiro 10, 2009

a torre

photo: s titulo_helder mendes

desço do meu cavalo branco
com a espada e o escudo nas costas,
caminho sobre as paredes gastas
do castelo de areia
e subo à torre perdida
por entre as nuvens…
que te guarda
e me aguarda por entre as pedras
que repousam firmes nas paredes.
subo às escadas sem receio
nem tão pouco me cansar
e subo-as a um qualquer ritmo.
pelas fenestras
olho para a vila que se expande
à volta do castelo
e mais além,
as serras que o envolvem…
chego ao topo,
encosto a mão à porta
avisando que cheguei…

abres a porta… sorrindo
de olhos bem abertos
como se não nos víssemos há mil anos
entro,
contigo a abraçar-me
e logo se estende o beijo
que faz diluir as roupas
e derreter os corpos…

Bruno Ribeiro
PMS, 3.Jan.009

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

regressos (in)desejados

photo: o caminho menos percorrido_heliz

guardo na algibeira uns trocos
nos olhos a vontade de te ver
na boca o desejo de te beijar…
vou até à estação mais próxima
e vendo os trocos por um bilhete
que me leve… para onde estás
conto as milhas, em contagem decrescente
ansioso que se percorram velozmente
sem paragens nem contratempos…

viagens
em que os regressos não se querem,
mas que sem se pretender
se retorna sem aviso
uma vez mais

Bruno Ribeiro
Lx. 12.Jan.009

domingo, fevereiro 01, 2009

velhas canções

photo: nature inscriptions_eduardorosas


no amanhecer guardado
entre os símbolos da paixão
espalhados pelo chão
e sobre a cama abandonada
pouso versos de uma melodia
que te chama…
a cada reencontro de olhares!

o mar que varre
o ar que te banha
na brisa nocturna
da noite deixada
na cama vivida…
o velho piano de madeira
cujas teclas guardam a cor do tempo
e com marcas dos copos
nele pousados… saboreados…
os beijos,
nos lábios de sabor a tâmaras
e pequenos morangos
que guardo no gosto
demais uma vez te beijar…

velas que brilham
telas que se vivem, não exibidas
entre os galhos pintados
que dançam nos céus
assim se guarda
mais um e outro momento
em que te dispo com o olhar
e te toco com a ponta dos dedos
com o traçado dos lábios…

'sobre a almofada,
pousei uma rosa vermelha
que espera ser colhida
pelas tuas mãos…


nesse velho amanhecer
que nos transporta
a outro tempo, que recordo
pousado sobre uma rocha
olhando o mar a cantar
velhas canções… de te amar!

Bruno Ribeiro
Lx. 11.Jan.009