sexta-feira, dezembro 26, 2008

aconchego

photo: revello_unknown


sentado à janela,
a escutar a noite!
a lua sorri,
as nuvens passam
correndo atarefadas
e na cama,
os lençóis revelam
mais do que escondem
as nuas curvas do teu corpo
olho-te sorrindo,
enquanto repousas no meu leito.
a noite imprime cores
que deslizam sobre ti
aproximo-me,
levo a mão, a percorrer suave
o teu perfil…
enquanto guardo no aconchego
os nossos corpos
e faço deslizar o tecido
que nos abriga…
beijo-te o ombro,
envolvo-te num abraço
e adormeço…

Bruno Ribeiro
Lx. 14.Dez.008

segunda-feira, dezembro 22, 2008

cachoeira

photo: st_helder mendes


redondas,
estas pedras que rebolam,
empurradas pela viagem do rio,
que amassam o meu corpo
e rasgam as roupas
que se fragmentam em sensações
espalhando-se pela água
nuas!
rio selvagem,
de desejos que se vazam
em forma de cascata
e me atira…
sobre um lago
envolvo-me na espuma
entre a areia e a água
e volto à superfície!
à minha volta
a multidão de uma selva desértica,
com timbre de músicas que desconheço,
atento…
mergulho…
e perco-me no tempo
saboreando o momento…
enquanto danço pela água
um vulto aproxima-se…
viro o olhar molhado
cego pelo sol…
vulto curvilíneo…
fecho os olhos e volto a abrir
para ver melhor
mas mergulhou e desapareceu…
sobre as águas agora calmas…
e nervosas… de suspense
procuro no horizonte
os movimentos desse vulto…
sinto perto de mim…
algo a agarrar-me
umas mãos…
a trepar pelas pernas…
um corpo…
a colar-se ao meu…
e por fim o olhar…
que me fixa…
que me prende…
que me beija…

dois corpos nus
que rebolam
entre as partículas de água!


Bruno Ribeiro
Lx. 10.Dez.008

segunda-feira, dezembro 15, 2008

lágrimas de nanquim

photo: o guardião do silêncio_mariah


deixo que a tinta desta caneta
derrame os sentidos do meu sentir
sobre a nudez desta folha branca
que vagueia sobre o presente
memórias de um qualquer passado!

deixo seco o meu olhar
derramando no ar que me beija a pele
a nudez dos meus sentidos
que vagueiam em mim
memórias que vão e vêm, sem convite.

lanço, pousando sobre o rio que sobe
devagar sobre as minhas mãos
um breve papiro em forma de barco
que se dilui no esquecimento
e vagueia nos mares do meu sentir.

e desce, silenciosa
a lágrima do meu olhar,
na sombra do sorriso ausente,
que me afaga, sem consentimento,
e contorna o meu rosto.

fossem breves as lembranças
para que as noites fossem dormidas
no descanso do luar..
fossem apagadas as memórias
para que os dias tivessem sol
no descanso do meu olhar…


porque me beija a solidão?
e me abraça o silêncio de ti ausente?

agora que a tinta seca
e a lágrima se derrama
viajo no inconsciente
para te esquecer
ou não te lembrar…
mas aqui estás…
sempre com aquele sorriso
que me esgana, que me sufoca
em mim mesmo!

Bruno Ribeiro
PMS. 27.Ago.008

quarta-feira, dezembro 10, 2008

olhando

photo: quando o tempo se ausenta_heliz

imagino-te assim…
olhando-me,
enquanto cantas através do olhar
que me envolve,
que me cativa,
que me aconchega…
sorrimos
e vagueamos entre conversas
que o tempo não importa,
porque assim estamos,
olhos nos olhos,
envolvendo-nos, abraçando-nos!
estendo a mão à tua mão
e levas-me a dançar
pela música trazida pelo vento
sem saber dançar…
mas não importa
porque estamos assim,
perdidos no tempo,
porque ele não importa.

ai! esses lábios macios
que me chamam
no silêncio do beijo…

Bruno Ribeiro
Lx. Out.008

sábado, dezembro 06, 2008

no fundo do mar

photo: o barco esquecido_heliz

mergulho na imensidão azul
e envolvo-me na espuma do mar
porque navego através do que sinto
e sufoco no próprio sentir…
beijado pelo sal das ondas
consciência sentida de uma lágrima perdida
que vagueia, esquiçada no meu rosto
também ele perdido…
o ar que foge do corpo
para se libertar de mim
os pulmões que respiram água
alívio de qualquer dor!
são sementes de pânico
estas deixadas sob o meu olhar
imperturbável pelo sal que sinto…

‘tento e tentei…
percorrer o mundo sem ti
mas a ti volto todas as noites
num delírio que me aprisiona
entre o perfume da memória
o perfume do sentir, perfume de ti!

‘tento e tentei…
apagar e afogar o que sinto
mas não se perde
na incolor ausência de ti

por isso afogo o meu corpo
na inconstância do meu ser
que sente e bate por ti…
são parcas as palavras
muito raras as que me aliviam
deste fustigado olhar vazio
por entre as gentes da solidão!

fossem as tuas palavras presentes
para aliviarem o meu coração…
sufoco este,
que me converte num suspiro
esquecido por entre o vento!
já me perdi,
nesta mancha azul
em que o ar se esvai
já me rendi,
às forças que não tenho
e assim me afundo…

sou… mais um grão de areia!

Bruno Ribeiro
Lx. 20.Set.008