domingo, outubro 29, 2006

insónias


cama vazia
.
deito-me… sinto a falta de tudo,
respirar…
.
procuro-te entre os lençóis,
perto da lareira apagada…
.
noite fria…
.
sem ti, noite longa e deserta…
rebolo perdido…
.
não consigo fechar os olhos,
não os consigo manter abertos…
.
lágrimas no leito
.
fado negro,
sonhos negros…
.
embalo ausente,
solidão
.
corvo que uiva distante.

Bruno Ribeiro
Lx. 29.Out.06

sábado, outubro 28, 2006

sobrevivência


Aprisionado em sentimentos contraditórios,
Nado num mundo de seda e aço,
Atraiçoado por mim mesmo
E pelo que sinto,
Incapaz de sorrir…
Incapaz de não chorar…
Palavras para quê?

Revoltado pela luta inglória,
Voo sem destino e sem poiso,
Embriagado pela dor que me consome
E corrói… e arde…
Pelo que sinto,
Pelo que vivi e agora sobrevivo…
Palavras para quê?

Enroscado entre pedras húmidas
De uma esquina escura,
Solto a violência da angústia
De me encontrar perdido
Em locais de areias movediças,
Pelos desejos assassinados,
Pelos sonhos corrompidos,
Palavras para quê?
Se delas não há resposta.

Ancorado em mares revoltos
Que contra mim projectaram incertezas
Voos rasantes de suspiros intensos
Sombras afugentadas pelo som das lágrimas,
Uma lua desatinada pelo meu uivo
Choro que emancipa as estrelas,
Dança de uma agonia imensa
Entre os lençóis de algodão negro
Incapazes me tirarem a dor
E de me esconder do frio…

Ai, solidão, solidão…
Que me respondes mil incertezas,
Que será dos versos apaixonados
Que ficaram por revelar?

Ai, solidão que me acompanhas…
Abraça a minha sombra,
Toca-me no rosto…
Sente a poesia negra que escorre dos olhos…

Ai… solidão…
Solta-me… abandona-me…
Como a um cachorro sem destino
E parte para longe,
Procura outra sombra enegrecida…
Deixa-me chorar… e sorrir…

Evaporo por entre as lágrimas
Que se perderam no labirinto da vida,
Evaporo por entre os fios de seda,
Que compõem as velas dos barcos
Que desejava não ver partir…
Porto de abrigo carregado de rostos pálidos…
Por verem partir tantos sonhos perdidos…
Mas… palavras para quê?

Foi este o caminho que me ofereceram
Sem eu ter escolhido…

Tento deixar a âncora,
Tornar a revolta em força e coragem…
Fugir da prisão invisível que me prende
E no meio desta encruzilhada,
Seguir em frente…

Mas grande é a saudade
De um coração apaixonado…
Sei que tenho de embalar este amor
E deixar algures…
Talvez na memória!

Bruno Ribeiro
Lx. 28.Out.06

quarta-feira, outubro 25, 2006

torneira de lágrimas


ping, ping, ping

gotas de água que caem de uma torneira qualquer

ping, ping, ping

torneira avariada de um qualquer jardim,
desperdício de água nos tempos que correm…
ou inevitável para aliviar qualquer pressão.

ping, ping, ping

procuro apagar a fonte deste constante som,
que me faz ter os pés molhados
numa poça de água qualquer que ali existe…

ping, ping, ping

e num qualquer espelho me vejo,
embaciado por palavras soltas
que no silêncio permanecem.
vejo de onde vêm essas gotas de água salgada,
lágrimas de uma qualquer sombra,
sombria e franzina – desespero!

a seu lado diluem-se cinzas,
pegadas de tempos idos e alegres,
tempos em que tudo fazia sentido…

dessas poças dois rios que se separam
para dois infinitos mares distantes.
será que em qualquer lugar se podem encontrar?
e deste “ping, ping, ping” soltou-se uma cascata…
pedras soltas de uma solidão intensa,
que caem a meus pés,
vindas sei lá donde…

pedras, lama, carvão e sangue…
esboçam os meus passos, destes dias,
em que transpiro tristeza, derramo lágrimas da cor de petróleo,
mancha negra que se espalha nos oceanos.

labirinto,

escondo em baixo de cada pedra da calçada uma lágrima,
miligramas de dor que tento esconder pela cidade…
escondo em cada rosa outra lágrimas,
miligramas de angústia que tento apagar…
guardo em cada estrela um desabafo,
miligramas de esperanças perdidas…
guardo em cada grão de areia outro desabafo,
miligramas dos sonhos esvanecidos…

ping, ping, ping…

lágrimas que dos meus olhos caem…

Bruno Ribeiro
Lx. 25.Out.06

terça-feira, outubro 24, 2006

desabafos efémeros


Sinto a falta da paz dos teus lábios, aquele doce momento que me elevava até ao mundo dos sonhos, do delírio constante…
Sinto a falta do brilho dos teus olhos, sorriso que abria o coração que me derretia mesmo nas noites frias… E tudo se evaporou por entre os dedos que procuram a tua mão.
Nos dias de hoje, nem o sol brilha, rasgado pelas constantes guerras de meteoritos que teimam em me acertar… tento desviar-me, mas não consigo evitá-los a todos. Já me questionei porque haveria de tentar fazê-lo, se não consegui evitar que partisses…
Assim, corro em direcção ao mar… uma falésia aparece à frente e desta não evito… enfrento-a, é o portal de uma liberdade desconhecida. O mar no horizonte, dos rios que dos meus olhos partem até se acalmar, sem parar de correr…
Sinto a saudade a apertar, a vontade de estar contigo, de te beijar, passear de mão dada, andar de baloiço – brincar, falar, sorrir, voltar a sentir a paz que me transmitias mas, isso só encontro nos sonhos… de noites em que não durmo, por o meu corpo ansiar o teu e o sorriso… e o beijo… de dias em que mal acordo, de infinitos momentos de angústia, desespero e medo…
Mas tudo se perdeu e sinto-me a perder num mundo que tenho de redescobrir, nestes dias em que os raios solares são sombrios e negros e a chuva de nanquim, igual à dos meus olhos.

Bruno Ribeiro
Lx. 24.Out.06

segunda-feira, outubro 16, 2006

.afogamento.


Sinto-me a afundar... amarrado a uma pedra e atirado ao mar...
O sufoco... o desespero... o medo... o pânico... a falta de ar... a curta-metragem da vida passada à frente dos olhos. As lágrimas a misturarem-se com a água salgada do mar que já me começa a inundar os pulmões.
Olho para cima e vejo o sol a diluir-se, a perder a cor e o brilho, a apagar-se... salpicos do calor que emana e a meus pés... o negro!

Por dentro, consumido por larvas famintas que se alimentam do meu ser, do que resta... ervas daninhas a sufocar-me, a apertar ainda mais os pulmões e a cravar espinhos no coração despedaçado... triturado... esmagado... dor agonizante...

Estendo a mão à procura do sol... e desisto...

Bruno Ribeiro
Lx. 16.Out.06

domingo, outubro 15, 2006

uma lágrima em forma de letra


Houve momentos em que as estrelas brilharam bem lá no fundo do mar e os barcos acendiam candeias que iluminavam a noite, momentos esses que até o arco-íris se intimidava devido à cor, à alegria que nos foi invadindo de alto a baixo.
Houve momentos em que o nevoeiro ou a chuva esconderam essas luzes, essa magia, só por nós presenciada... e agora existe um nevoeiro cerrado, uma chuva intensa que abraçou o nosso mundo e só nosso! Tenho medo que esse nevoeiro perdure e não deixe ver lá em cima os barcos, lá em baixo as estrelas... tenho medo de perder a magia do teu sorriso (sim, tu sabes fazer magia, tu és mágica)... medo de perder a magia do teu olhar...
Quando poderei ver novamente as estrelas a nadar na água? E quando voar na noite através dos barcos?
O que fazer para esse nevoeiro se evaporar? E algum dia irá evaporar?
Tenho medo das perguntas e ainda mais medo das respostas...

Um dia em que te magoei… e naveguei sob um nevoeiro cerrado
Bruno Ribeiro

sexta-feira, outubro 06, 2006

podem vir

podem vir...
seres necrófagos alados... podem vir!
podem vir... sanguessugas sequiosas, podem vir!

encontro-me atado a um cato em forma de cruz,
com cordas espinhosas...
todo o tipo de esfomeados seres a meus pés
desdenhosos... famintos... podem vir!
secar a minha alma...
fragmentar, despedaçar o meu corpo...
eliminar o meu espírito...
rebentar com o meu coração... podem vir!
beber das minhas negras lágrimas,
trepar pelo meu corpo enlameado,
rasgar a minha pele,
arrancar a minha carne,
podem vir!

serpentes a abraçarem-me o pescoço...
outras a beijarem-me com veneno,
outras a cuspirem-me desespero...
outras ainda a fazerem o que quiserem...
podem vir!
pois já nada alimenta o meu viver!

por favor, venham...

Bruno Ribeiro
Lx. 6.Out.06

estranhos sons

sons estranhos,
estes que indagam o meu ser...

sons do silêncio doloroso,
das lágrimas que teimam em cair.
sons do bater de asas distantes,
de âncoras a levantar,
velas a içar e barcos a partir...

sons estranhos,
de estrelas a apagarem-se,
flores a morrerem...
ilusões... desejos perdidos...
sentimentos espinhosos!

que sons estranhos...
brotam da minha guitarra sem cordas,
da pena de corvo a escrever com nanquim
num negro papiro envelhecido...

sons estranhos,
estes que indagam o meu ser...

sons de palavras que não podem ser ditas,
o silêncio das que já foram ouvidas!
a morte silenciosa da solidão...
que som estranho!

Bruno Ribeiro
Lx. 6.Out.06

cry

"i hate myself and i want to die" - nirvana
cry

quero apagar tudo em que acredito!
apagar o meu ser, esquecer que vivo...
quero partir para longe,
onde não possa magoar ninguém,
ir... sem destino,
com a minha velha guitarra sem cordas,
a caneta sem tinta...
embrenhar-me nos meandros do álcool da solidão,
atirar-me para um mundo desconhecido,
abusar na heroína, esconder-me na cocaína!
morrer como ser humano...
viver como nunca desejei!
inalar o ópio da dor,
espetar canábis no espírito...
algures num lugar esquecido pela humanidade
para não magoar mais ninguém,
deixar de existir para o mundo,
viver nas cinzas do esquecimento,
rebentar tudo o que sou
para esquecer o que fui...
porque odeio-me!

Bruno Ribeiro
Lx. 6.Out.06

não posso crer

não posso crer,
que as sementes da paixão vagueiem pelo ar
sem terem onde pousar,
à deriva no tempo, sem perdão... não posso crer!

não posso crer,
que as estrelas morram em vão
em puro desespero se escondam
no esquecimento de quem desiste... não posso crer!

não posso crer,
que os barcos vagueiem no céu... no mar...
se afundem num amor perdido,
numa neblina, véu de seda... não posso crer!

imagino sim, no que acredito...
no que o coração me diz e o mar segreda,
que rabiscos na areia as ondas não levam...
mas acariciam... em segredo...
com a minha simples companhia...
com os meus desejos e os meus medos...
a brisa a bater-me na cara,
brisa leve, suspiro de gente
afogada na esperança de viver,
com mil sorrisos ao amanhecer
mil beijos ao anoitecer...
o afagar o cabelo... olhar eterno... intenso....
a espuma das ondas... carinho...

não posso crer que tudo se perca na neblina das horas...
não posso crer!

que as estrelas deixem de luzir
no fundo dos mares - confidentes...
que os barcos partam sem deixar rasto,
uma breve linha no céu,
de esperança, de mágoa... não posso crer!

não posso crer,
que o tempo vivido se reduza a pó...
a cinzas... a vazio...
e que o tempo ao meu lado não seja lembrado...
e que ao meu lado o tempo não seja vivido...
não posso crer!




sinto sim no coração esperança,
esperança de ser feliz...
por isso estendo a mão aos céus
a pedir perdão, a pedir ajuda...
enquanto o resto do corpo é desfragmentado,
despedaçado... alimento de necrófagos,
vorazes predadores de corpos infelizes...
devoradores de almas condenadas...
estendo a mão...

... estendo a mão,
à procura de uma asa que me puxe,
que me leve para longe,
longe destas areias movediças,
longe desta solidão...
longe da tristeza...para longe...
perto de ti!

não posso crer...
não posso crer que não se estenda essa mão,
que não queiras viver o tempo a meu lado,
que te escondas algures nos afazeres,
não aceites a flor que te ofereço... um jardim,
que deixes de acreditar na magia,
que prefiras 'tar longe de mim,
que não me queiras mostrar se me amas,
que não me queiras amar!

não posso crer...
que não me queiras afagar...
que não me queiras acarinhar...
não posso crer...
que não me queiras olhar...
que não me queiras tocar...
não posso crer...
que não me queiras beijar...
que não me queiras amar...
não posso crer, desculpa mas não posso crer...

Bruno Ribeiro
Pms, Out.06

who am i?

Agora que estás distante, refugio-me entre as folhas de papel como se fossem lençóis na cama e a tinta negra rasura sobre o opaco e o desfolhar amarelado das folhas.
Estás tão longe... mas continuas tão próxima, não sei como, por certo, só por artes mágicas.

O som que ecoa no quarto transpira meditação sobre uma curiosa pergunta à qual não sei resposta, assim... e enquanto estás longe, distraio-me na cinza das horas, a percorrer as veias do meu corpo para o libertar das mágoas e lágrimas que teimam em não sair. Gostava que se derramassem pelo rosto e se enxugassem por fim, mil pesos que sairiam do corpo e enfim, leve e mais alegre...

Afinal, quem sou eu?

Por vezes, lembro-me de antigas crónicas em que me auto intitulava de corvo de nanquim, pousado no ramo de uma árvore seca e queimada numa noite sem luar à procura de uma pomba branca, em sinal da paz que quero no espírito, da alegria da alma e da felicidade no coração, pomba branca onde estás? Tão longe de mim... voa para mim enquanto a noite desce à terra que nos acolhe!

(...) who am i? who am i for you?

Onde estás?
Onde estás nas noites em que preciso de ti? Onde estás agora? Estarás a olhar para a lua assim como eu?

Onde estás?
Onde está aquela menina que me encantava com o sorriso?
Algures por aí... mas porque não me estende a mão?

As lágrimas secas das noites anteriores escorrem-me pela cara...

Bruno Ribeiro
Pms. 6.Out. 06
Escrito enquanto ouvia:
"Mellow collie and the infinite sadness"
Smashing Pumpkins

domingo, outubro 01, 2006

deixei-me levar… e encontrei-te!

embrenho-me nos ventos do norte,
sou pétala, sou folha de Outono,
deixo-me ir para onde o vento me levar...
já não há vida no meu coração
e alma transformou-se em pedra.
levantei a taça de vencido
e fiz jus ao vencedor...

nos meus olhos,
nascem vagas de negras lágrimas,
e a sombra da lua e do sol
espelha-se sobre mim.
sei que aqui e ali não sou feliz,
por isso parto para a aventura...
entrego-me ao mundo,
como o cordeiro se entrega ao lobo,
levo a guitarra sem cordas nas costas,
papel rasurado e uma caneta virgem,
levo o meu corpo
embebido em sangue,
suor e lágrimas,
cavo sementes de poesia
e desatino a dor que me acompanha.

ergo a fronteira da vida e da morte,
sou condenado no tribunal do sofrimento,
onde o diabo é o meu advogado,
onde os seus discípulos riem pela pena em mim imposta,
penitenciado, acusado e torturado,
ficam com o que resta de belo,
com actos impunes, eles vencem...
uma vez mais.

continuo a viagem a que me submeti,
caminho descalço pelo tapete em brasas,
pelo passeio de espinhos...
mas, não é esta a dor que me tortura...
peço para serem clementese porem um ponto final...
mas algo surge no horizonte,
uma borboleta,
uma flor,
um anjo,
que me diz, sem eu merecer,
para acreditar em mim...

fico estatelado e tento perceber
porque me diz,
o que me diz e quem é...

interrogo-me se será mais um truque
do meu querido advogado,
mas não... não sei... parece ser amiga...

dispo a minha nudez,
aperto a minha guitarra,
pronta a tocar (sem cordas)
levanto a caneta,
estendo o papel
e tento fazer algo...
uma canção...

assim me iludo... me perco...
nas pétalas do condenado,
nas amarras do inocente
e sigo sem saber por onde andar...

serás tu meu anjo que me irás encaminhar?
irás limpar as lágrimas que me escorrem pelo rosto?
irás sorrir para eu sorrir?
irás cantar para me encantar?
agora sei que sim…

deste-me o que ninguém me deu até hoje!
deste-me paz, alegria, sorriste…
deste-me vontade de viver, sorriste…
voaste até mim e… sorriste…
e devido a esse sorriso,
deixaram de nascer vagas de lágrimas,
e parei na minha viagem…

agora a minha guitarra tem cordas,
o passeio não tem espinhas, nem brasas…
apenas porque me sorriste e me deste vida!


Bruno Ribeiro
Coimbra Lisboa Leiria Porto de Mós

sem inspiração

gostava de escrever uma poesia que expressasse o que sinto por ti,
mas não consigo encontrar as palavras adequadas,
para juntar e fazer algo de que te orgulhasses.
gostaria de escrever uma prosa,
como só Camões sabe escrever,
onde lesses o cantar do meu humilde coração
mas não consigo encontrar a inspiração,
não sei o que escrever,
sem ter que repetir... mil vezes,
a palavra amar.

Escrevo palavras e frases para logo as riscar,
meias prosas e lamúrias para de seguida queimar.
Meu amor,
não sou Camões,
nem nenhum compositor famoso dos mais belos poemas de amor.
Continuo sem saber, como te dizer o que sinto;
tento arranjar comparações e metáforas,
para dizer o que me vai na alma,
mas não consigo escrever...
o que o meu coração diz baixinho.
Olho para as estrelas tapadas pelas ondas do mar,
olho para os barcos que navegam sob as nuvens,
e assim,
te remeto uma palavra,
para tentar exprimir um sentimento,
por isso te digo e te canto
- que te amo.

Bruno Ribeiro
Coimbra Lisboa Leiria Porto de Mós

obscuro

Está escuro, o sol deitou-se e a lua acordou...
Está mesmo muito escuro, o dia adormeceu e a noite cresce!
Os dias não têm sol e sem lua a noite é preta...
Os meus dias são pretos sem o sol de sentimentos;
Os sentimentos fazem aumentar as saudades
de ter dias claros e noites mágicas...
O som do piano calou-se e as teclas ainda são premidas;
O som da guitarra calou-se e as cordas ainda gemem;
O som da bateria calou-se e ainda se vêem os pratos baloiçar;
O rio parou e as palavras calaram-se;
O magnetismo virou-se e o vento acelerou
as saudades de sentimentos, de corpos distantes!
A música parou de tocar e os sonhos... pesadelos;
O arco-íris na noite escura e os uivos sem luar...
E mais um choro na longa solidão...
A batuta do coração treme,
mas nada move os sentimentos de corpos ausentes;
A brisa virou tempestade
E o sol um cristal gélido;
As nuvens pretas carregam a chuva que me banha;
A lama sobe-me pelos pés acima
E o frio desce pela espinha abaixo;
O cabelo parece um barco à deriva
nesta noite em que só se vislumbra negrume;
Os barcos à vela no mar e poucas estrelas no céu sem brilho
e nada mais...

E quando o íman do amor
Aproxima esses puros sentimentos esses corpos nus
O rio viola qualquer obstáculo;
O sol aquece dia e noite, respira vida...
A noite é clara e os arco-íris são coloridos;
O vento amena e as vozes já não se calam;
Ouvem-se sorrisos, em vez do pingar de lágrimas;
Ouve-se música sem cessar, baladas de poesia;
Os pássaros cantam, as nuvens evaporam-se;
As árvores dançam ao sabor da brisa celeste;
A paixão ardente emana alegria;
E à noite... à magia no ar...
E os barcos voltam a ver-se nos céus da felicidade
E as estrelas voltam a brilhar nos mares do amor!

Bruno Ribeiro
Coimbra, 4 de Novembro de 2002

grito de revolta

Gotas de ácido pairam no ar,
Gramas de urânio esperam rebentar,
Crianças, por fome, morrem...
E ricos, fortunas gastam, a corromper.
Assassinos do tempo, soltos,
Assassinos da pátria, impunes...
É assim que o mundo respira,
Mutações de incompetência humana,
Abortos de governos implantados,
Procuram a eternidade da vida,
Ignoram a Mãe Natureza,
Destroiem, queimam e matam...
Para onde havemos nós de ir?
Gritos de revolta que ecoem nos Céus,
Para toda a eternidade...
Ensombrar este mal,
Gritem, revoltem-se a quem vos condena...
Inocentes...
Gritem, revoltem-se a quem vos mente...
Leais...
Gritem, revoltem-se a quem vos mata...
Meus amigos...
Não deixem impunes estes demoníacos
E gritem, gritem cada vez mais alto.
Crianças choram... não sabem dos pais...
Idosos imploram... por ajuda...
A Natureza luta... pela vida...
Os humanos matam... porque são estúpidos...
Pelo poder, pelo dinheiro...
Por cobiça e ganância...
Gritem sem cessar,
Ensombrem o negro daquelas almas,
Revoltem-se sem cessar,
Contra os crimes cometidos...
Violadores submissos às leis,
Puros profetas do mal,
Corruptos do Diabo...
Gritem... revoltem-se...

Bruno Ribeiro
04/00

já nada interessa...

Planando na vida,
na minha vida...
voei até ti e tu desististes... de mim
e também eu desisti...
de viver ou de morrer,
de falar ou me calar...
desisti da desistênciade sorrir e de chorar,
de me achar e me perder...
Já não vale mais apena...
Procurar ser feliz ou infeliz,
de amar ou odiar...

Já não me interessa...
se sou amado ou odiado,
se fico ou se vou.
Ir para ali ou não ir,
que importância tem...
anjo ou morcego,
açúcar ou sal,
mel ou pimenta,
um Paraíso ou o Inferno,
quero lá saber...
já nada me interessa,
porque te perdi.

Bruno Ribeiro

julgamento

Sonho alto, pelas estribeiras de um sono profundo,
O sono que se desperta quando a cotovia acorda
Nas trevas abertas deste mundo negro
O sono da vida que viaja para a morte,
O sono do amor que nos leva ao suicídio,
O amor que nos mata sem saber.

Sonho alto...
Sonho o que amo e dói
Sonho da música de um disco riscado,
O risco que marcou a vida, aquela que nos mata...

Sonho um Paraíso, perdido nas brumas da memória,
Tão distante que me perco, no próprio sonho...
E como é doloroso este sonho...
Como é possível não ser pesadelo?
Se calhar porque o pesadelo sou eu...
Mas como mudar, sem a ajuda de um amigo?

Sonho... mas, o que será este sonho?

Quero saltar do mais alto dos picos,
Afundar-me no mais fundo dos mares,
Fugir para nunca mais me ver,
Perder-me para nunca mais me encontrar...

Mas o que quero mesmo é amar...
E por amar cometo um crime,
Por isso, sou culpado e levado ao juiz
Só gostava que o juiz fosse o diabo,
Pois só ele... seria justo,
Pois só ele... acabaria com esta dor.

Sonho,

Isto não é um sonho,
O que será?
A realidade, a morte ou o amor?
Só tu juiz saberás...

Bruno Ribeiro
1999

lágrimas minhas

O meu Sol e a minha Lua fugiram de mim,
levaram os sorrisos e o brilho dos olhos,
levaram a paz e o carinho,
levaram tudo, deixaram muito...

A pomba e o corvo olharam-se e voaram...
lá para longe, onde ninguém os vê,
lá para longe onde ninguém os ouve,
onde o mar de sal se transforma em amor...

Na penumbra da noite,
o arco-íris a preto e branco,
nublado de lágrimas minhas,
enriquecido com pautas negras de dor
onde esvaia um rio de sangue...

Lá nos horizontes perdidos, esquecidos, ignorados...
voa a águia e o falcão,
nadam os golfinhos e os tubarões,
correm as chitas e os tigres...

No ninho do Paraíso
nunca irei por os pés,
nunca ouvirei palavras de alegria,
porque como uma borboleta,
fiquei preso num casulo!

Nos olhos castanho-esverdeados naufragados nas lágrimas,
negras com a lápide da noite escura,
vermelhas como o sangue que brota das feridas,
salgadas como o mar que bate nas rochas...

E no Olimpo e na Antlantida,
os deuses festejam pelas suas conquistas,
enaltecidos por uma ninfa de sete mares,
despida da timidez e fiel como uma serpente!

Bruno Ribeiro
Coimbra, Outubro de 2000

suicídio

Olhar tenebroso
perdido no além,
há procura de alguém,
de um rosto silencioso,
de uma miragem inexistente,
de uma esperança persistente.

Dói-te a imagem que não vês,
magoam-te as horas que não esperam,
ecoam as palavras que a chamam
e as mensagens que não lês
na areia beijada pelo doce mar,
suprimidas pelas lágrimas do teu olhar.

Nascem os queixumes da derrota,
pelo amor que assim perdeste,
pelo sonho que inutilmente fantasiaste
que te queima e te mata,
numa ferida outrora já sentida,
que faz renascer uma dor perdida.

E são nos rostos floridosde lágrimas secas,
que nasce o dissabor das bocas,
dos beijos por mim pedidos,
da resposta que me ofereceu
e da paixão que por mim perdeu.

Só me apetece por um fim,
nas minhas lágrimas negras,
nas minhas palavras gastas,
no amor que nasceu em mim.

Dando um passo em frente neste penhasco,
Assim fecho este olhar e me mato.

Bruno Ribeiro
Março/00, às 3 da matina.

um desenho de sentimentos

Angustiado,
Triste e só...
Desenho neste papel o teu rosto,
A tua forma, o teu corpo...
Com o lápis,
Rabisco as ondas dos teus cabelos curtos,
O brilho do teu doce olhar,
A suavidade dos teus lábios.
Crio o teu retracto... neste papel...
Suavizo com o dedo as linhas do teu corpo,
Beijo-te com o carvão...
E assim nasce a tua eternidade,
Controlo o tempo e o destino
Deste humilde desenho, e só ele controlo.
Escondo a dor da tua ausência,
De me ignorares, me afastares...
Escondo a dor causada
Pelas palavras que dos teus lábios saíram,
As palavras por não me amares...
Escondo a dor de quando a música parou...
E continuo a desenhar riscos,
Mais negros que a escuridão,
Mais sombrios que o destino,
Mais severos que a vida,
Mais cruéis que o amor.
A sombra - o meu corpo,
Com lágrimas de carvão e sangue...
Sem esperança... sem sorrisos...
Sem o teu amor...
Assim (te) aguardo e assino...

Bruno Ribeiro
04/00

a espera

rostos de lama,
olhares de sal,
esperas infinitas, naquele porto de abrigo,
palavras e sentimentos incertos,
desejos de retorno
e vontade de assassinar a saudade...
cantares rocos, que ecoam no mar
à procura de alguém,
filhos desconhecidos...
novos olhares, novas vidas...

e não voltam...
abrem-se olhares sobre o horizonte,
cegos pelas imagens que procuram,
mas o mar só mostra o espelho do sol...
a intranquilidade aumenta
e os grãos de areia cada vez mais abatidos,
mais pisados...
as ondas não trazem notícias,
só sentimentos incertos...

os olhares procuram,
os filhos...
os maridos...
os pais...
os avós...
os netos...
e o horizonte nada trás...

dão-se passos de esperança...
e desilusão,
fazem-se gestos de saudade...
e angústia,
dizem-se palavras para reconfortar...
e desconfiar.

mas continuam ali... à espera...
os minutos, parecem dias,
as horas, parecem anos...
é uma espera longa e vagarosa...
uma onda maior engana as gentes,
para logo as desiludir...
alguém grita o que vê,
quando na verdade nada vê...

começam-se a dar passos de ansiedade,
passos de engano e de lágrimas,
os olhares vão-se virando para outras margens,
para outros rumos, ainda incerto
ou então, apenas se fecham...
são cada vez menos os rosto de lama,
que ali esperam por quem não chega,
a esperança reduzida a cinzas...

agora só resta um olhar de sal,
um rosto triste...
um ser tenebroso e gentil,
só restam os lábios rosados,
desejosos de dizer - "olá!!"
tendo no horizonte um futuro desconhecido,
ali vegeta, chorando ansiedade,
ainda com a esperança de matar a saudade...

bruno ribeiro
março/00

esperando por ti

Altos são os sonhos que me varrem a alma;
Profundos são os sentimentos que sinto por ti;
Enormes são as saudades que sinto crescer!
A noite adormeceu nos braços do céu azul
Onde se veêm nuvens a correr de um lado para o outro;
Os pássaros e as aves migram para Sul...
Também tu... foste para Sul...
E eu... ainda vim mais para Norte...

Porque não seguimos para onde nos conhecemos?

Para o manto de estrelas brilhantes, de brisa nocturna, de magia...
Com vista para luzes longíquas de barcos
Que navegam sobre o luar em ondas imaginárias...

Frios são os dias em que não te vejo
E frios são os momentos em que estás longe...
A loucura renasce a cada minuto que se nos depara
E longe o tempo em que nos voltaremos a ver...

E porque não chorar,
Enquanto aguardo pelo fim da espera semanal?

E as saudades...

Só quando te vejo entrar no ar que respiro
É que o Sol nasce e volta a brilhar,
Só aí a Lua sorri!
Desces a ladeira no teu vestido de carinho
E sorris-me para me acalmar... para me amar...

E quando me deito ainda penso mais em ti sonho contigo...
Preciso que me abraces,
Que me beijes,
Que me toques,
Que me ames...!
Preciso de adormecer com os olhos postos em ti;
Acordar abraçado a ti... preciso de ti... porque te amo!

Bruno Ribeiro
Coimbra, 5 de Novembro de 2002

voa comigo sem medo

andorinha que voas pelo meu céu,
ave que nadas pelo meu mar de saudade,
linda melodia que tocas nos meu ouvidos,
abre teu peito... e deixa-me entrar,
abre teu leito... e deixa-me amar-te...

rapina que voaste até mim,
pomba dos sete mares,
sobre ti caiem as nuvens...
sobre ti ajoelha-se o mundo,
sobre nós caem as linhas do inimigo,
as palavras falsas dos amigos,
a vontade de nos separar dos barões,
a tentativa de assassinato do nosso amor...

que ignorância cresce neste mundo...
nada nos vai separar...
nada nos vai afastar do nosso voo,
no voo entre as nuvens,
entre o tempo... nesta vida...
o voo que os abutres seguem para nos comer,
mas contra eles vamos lutar...
sem medo, sem demora...
para todo o sempre, juntos... e descansados...
vivermos no nosso ninho...
de penas de mil cores,
conforto de cem estrelas,
lá no fundo o mar... um desejo... uma vontade... mil estrelas...
lá no fundo o céu... uma tentação... um amor... mil barcos...
e tão perto nós os dois... sentados sobre a areia a ouvirmos as ondas...

sei que pouco sei,
mas sei que te amo,
que te desejo... e que preciso de ti,
sei que o tempo é como o mar...
o tempo leva a vida,
como o mar leva a areia...
mas sobre o mar voaremos,
sobre o mundo amar-nos,
contigo aventurar-me na felicidade,
por ti matar abutres, corvos e morcegos,

minha andorinha...
meu anjo...
minha pomba...
minha flor de jardim que me descobriste...
minha pérola de cristal...
que palavras usar para descrever
a tamanha beleza que me fascina,
e que sede sinto a cada segundo que passa...
a sede dos teus beijos, dos teus lábios...
a sede do teu carinho, da tua amizade...
a sede do teu amor, de ti...

o vento quer afastar os nossos rumos,
os deuses do Olimpo gritam para nos amedrontar...
em vão!

pétala de seda...
tão sensível, tão doce, tão inocente...
pena de água...
tão meiga, tão amiga, tão querida...
eu e tu... nós,
rumamos contra a maré,
voamos contra o vento,
contra tudo contra todos... sem medo,
sem ódio, sem vingança...
apenas com o amor...
a vontade de vencermos
e a honra dos amantes...

anjo da minha alma...
dá-me a mão... e vem comigo...
desenhei o paraíso para ti,
um poema de amor para nós,
uma canção para o mundo
e um beijo para a eternidade...

minha borboleta de ínfimas cores,
tão linda...
as tuas asas feitas da brisa do mar...
os teus olhos espelhados nas estrelas...
deixa-me olhar para ti...
enquanto cantas tal como as sereias...
deixa-me dizer que te amo através dos olhos...

Bruno Ribeiro
Porto de Mós, Abril de 2004

não te sei dizer

Sorriso inocente,
Que prendes um ser,
Nas masmorras vermelhas,
Deste Inferno ardente.
Lágrimas de sangue,
Que percorrem a face
De alguém, que sente a dor
O pecado e o amor.
Mão que serpenteias
Os cabelos ondulados de um ser
Que navega no sangue
De quem chora solidão
Solidão branda e dolorosa
Desempregada quando atravessa
As linhas dos carris
Para fugir à fronteira da distância
Acompanha o pombo
Que traz no bico uma flor
Uma rosa, uma esperança
De ver alguém, um amor
Uma melancolia eterna
Dispersa na ferida que sangra
Pelos olhos por não te ver
No coração por não te Ter
Queima estas lágrimas de sal
Fervidas por este sangue de fogo
Devido ao amor eterno
Neste coração em erupção
Ouve o eco melodioso
De três letras casadas
É a palavra que sinto
Mas não te sei dizer.

Bruno Ribeiro
1999

o caminho

Percorro um caminho desconhecido,
Numa vida que me quer fugir...
Percorro um destino perdido,
Com um coração que me quer sair.

Sinto um amor flagrante,
Como a chama que dança,
No fogo da paixão ardente,
Mas, eterno como a lembrança...

Das palavras que me disseste,
Da magia que passámos,
Dos beijos que me deste,
Nos dias em que nos amámos.

Desconsolado fiquei,
Com a tua última palavra,
Morto andei,
Por este caminho que se alastra...

Bruno Ribeiro
1999

olhos nos olhos

olhos nos olhos,
assim nasce uma paixão,
uma magia, uma vontade de viver,
voar pelo o mundo,
vivendo cada segundo, como se de um dia se tratasse,
amar-te sem perceber como tudo começou.

e os lábios aproximam-se...
começam-se a tocar devagarinho...
... num canto da boca...
... e no outro bem devagarinho...
e no primeiro novamente...
e de seguida o outro,
enquanto dizes que te vais embora,
mas não consegues sair do carro e manténs-te junto de mim
e pedes silenciosamente um beijo
que já tinha sido pedido horas antes,
à beira-mar, sobre uma toalha...

dispo a minha timidez,
aproximo os meus lábios dos teus e beijo sem pensar,
não procuro a razão, apenas te amo.
invento mil histórias de encantar,
dou-te uma flor, um castelo, um palácio,
um jardim, um paraíso, um mundo, um universo,
dou-te a lua, o sol e o meu coração.
dou-te o amor que te confidencio,
dou-te as estrelas-do-mar
dou-te os barcos-do-céu

ardo por dentro, com esta paixão extrovertida,
voo nos pensamentos, nunca antes descobertos,
rabisco desenhos teus, canto pela felicidade,
enamoro-te sem desejar outra,
velo para que esteja sempre presente quando necessitas,
amarro-me à descoberta dos meus sentimentos,
dos meus mistérios, das minhas fantasias.
diriges-te para mim e eu estupidamente feliz, sorrio.
tudo se ignora para estar junto de ti,
todos se parecem infelizes perante nós,
tudo é nada contigo assim,
sim beija-me...
não encontro o sentido da vida,
enquanto estavas fora das minhas memórias,
a nossa união inevitável, assim faz estremecer este mundo,
peço-te para me beijares mais uma vez,
e os lábios aproximam-se...
começam-se a tocar devagarinho...
mais uma vez... e novamente
e mais uma vez... e novamente...
e tudo tem sentido ao teu lado,
esqueço-me do mundo,
esqueço-me de tudo... menos de ti
enquanto te beijo...

Bruno Ribeiro
Coimbra Lisboa Leiria Porto de Mós

só tu

a alegria do teu sorriso,
o calor...
o brilho do teu olhar,
a magia...
faz-me esquecer que o sol se deita!
faz-me esquecer que existe um mundo!

a dança dos teus lábios
quando falas...
a elegância dos teus gestos
quando andas...
faz-me sorrir, esquecer o sol!
faz-me delirar, esquecer o mundo!

agora são só lembranças,
pois foste para tua casa
e eu para a minha...
mas amanhã sei que me voltarás a encantar...
espero por esse momento,
contando cada tic-tac
do relógio que me deste,
tento adormecer as estrelas
para a manhã vir depressa
e voltar a olhar para a cor da tua áurea!

enquanto esse momento não chega...

lembro-me do nosso primeiro beijo...
lembro-me do nosso último beijo...
lembro-me de todos os nossos beijos...
e penso nos beijos que amanhã virão...

deves estar a olhar para as estrelas,
pois reflectem o teu sorriso.
e a lua tímida,
esconde-se por detrás daquele véu de nuvens...
só podes estar a olhar para as estrelas,
senão estariam pálidas!

na praia:
as ondas tentam apagar o nome que escrevi na areia...
o Teu!

mas não conseguem,
está escrito onde nada consegue apagar!
nem o mar, nem o vento, nem o tempo!
escrito com o olhar,
a alegria de te ter visto;
escrito com o primeiro beijo
e as lágrimas que secaste;
escrito com uma pluma de um anjo
de tinta perpétua e invisível,
escrito com as mãos,
com os pés,
com o coração,
com amor...
à beira-mar...

há noite:
sonho com o dia em que os nossos caminhos
nos levarão à mesma casa,
no meio dos barcos
(perto das nuvens)
ou perto das estrelas
(no meio das ondas)

Bruno Ribeiro
algures em tempos idos

sono profundo

Escondes o teu corpo nessas vestes,
Vestes de seda, de uma pura transparência,
Vestes ignoradas pela tua inocência.
Assim ardes nos meus braços e te despes,
Despes essas vestes tímidas
E deixas o prazer atravessar-te as veias.

Sente as minhas mãos...
Percorrer o teu corpo ardente,
Satisfazer a tua excitação impaciente...
Livres e selvagens são essas mãos,
Que desenham o teu corpo
E silenciosamente beijam o teu rosto.

A música de fundo, o ondular do mar,
Sedutora no teu céu de fantasias
Onde te banhas nas areias escuras,
Da noite ausentada pelo luar.
Um sonho tropical....
Percorrido pelos Anjos do Mal.

São estas mãos... brandas,
Que não te chegam a tocar,
Que dão este prazer de amar,
De te sobrevoar pervertidas,
De te darem o êxtase absoluto...
Porque te amo mais do que tudo....

Olhas para aquele espelho embaciado
E vês-te punida pelo meu amor,
Atingida pelas chamas do meu calor,
Iludida, por um beijo inundado,
Pelas minhas lágrimas de nanquim
E pelo sangue tímido que esvaia de mim.

E são as tuas vestes,
Que tapam o meu corpo sombrio
Onde desagua o meu sangue frio,
Arrefecido pelo teatro que me mentes
E representas...
Ao dizer que me amas...

Começam a chover...
Tentações dos Anjos do Mal,
Para caminharmos para o Paraíso infernal,
Onde as estrelas são prostitutas do prazer,
Da mentira, do ódio e da traição,
Que assim destroi... e mata o meu coração.

Vindos das escadarias do Olimpo,
Descem os cavalos negros,
Testemunhas dos deuses vencidos,
Que trazem a criança do teu corpo
E que cegamente...
É amada por mim perdidamente....

Para quê sorrir?
Ser na vida um herói...
Quando o meu coração dói,
Quando não sabes o que por mim sentir...
Ser gárgula dos tempos,
Infeliz nos meus sonhos...

Descem os abutres, para consumir a minha carne,
Elevam-me os demoníacos
Dos céus eternos...
Mas, quem me ilude é o teu charme,
Feiticeiro da traição,
Inimigo do meu inútil coração.

Deixem-me dormir...
Ter este sonho bonito... contigo,
Fundir-me naquele poema amigo,
Juntos, para a Lua partir,
Sentir na pele um desejo
E nos lábios um beijo.

Para quê querer despertar?
Para a vida cruel que me espera,
Quando a música suspira,
As letras que sonhava em te cantar.
No humilde caminho que percorro
E como uma flor sem água... assim morro.


E é assim que desisto...
Sem honra.
É a minha vida que eu quero que morra,
A razão, o que por ti sinto...
Sem honra e com dor
Bebo este veneno, pelo amor.

Bruno Ribeiro
2000 e poucos